Diversidade étnico-racial: unindo o útil ao agradável

Diversidade étnico-racial: unindo o útil ao agradável

Há mais de um século os negros são considerados “livres” no Brasil. No entanto, segundo Sofia Esteves, em matéria para o Portal Exame, após 300 anos de escravidão, a população negra continua sofrendo consequências do racismo estrutural.

A escravidão foi abolida em 1888, mas, na sequência, não foram implantadas estratégias para a inclusão dessa população à sociedade. Portanto, sem oportunidades de acesso à educação, moradia e forma de sustento digna, foram marginalizados e submetidos à perpetuação da desigualdade social.

As consequências disso ainda se fazem presentes e podem ser observadas por meio de uma pesquisa realizada pelo Grupo Croma, que mostrou que um em cada cinco consumidores admitem já terem tido alguma atitude racista e que 56% acreditam que as empresas têm preconceito ao contratar negros.

Por outro lado, comenta Esteves, 70% das pessoas entrevistadas desejam que exista mais diversidade nas imagens das marcas e empresas – o que também é visto como uma importante questão de representatividade, já que dessa forma, passam a se perceber como parte da sociedade, elevando sua autoestima e sua coragem em ingressar no mercado de trabalho.

De acordo com os dados da Síntese de Indicadores Sociais (SIS), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os trabalhadores negros enfrentam mais dificuldade de encontrar um emprego se comparados a trabalhadores brancos, mesmo quando possuem a mesma qualificação – e, quando trabalham, recebem salário até 31% menor do que os brancos que ocupam o mesmo cargo.

“Os negros representam mais de 55% da população brasileira, mas ocupam apenas 5% dos cargos de liderança nas 500 maiores empresas do país”, diz Carlo Pereira, diretor-executivo da Rede Brasil do Pacto Global.

Esteves afirma que a falta de profissionais negros e negras capacitados para o mercado foi utilizado como justificativa das empresas para não contratarem esse público durante muitos anos. No entanto, de acordo com dados do IBGE, nas universidades públicas, os jovens negros e negras já são maioria. Os dados do Censo de Educação Superior, do Ministério da Educação indicam que nos cursos de excelência há uma presença expressiva. Em medicina, por exemplo, os negros são em 27%. Na área de química, são 29%, e direito em 23%. Então, o que falta para que alcancem cargos de alta liderança?

A desqualificação dos oprimidos é recurso histórico para racionalizar e consolidar a exploração. Porém, o Brasil é o país com a maior população negra fora da África e graças à expansão do acesso à internet, suas necessidades e direitos têm alcançado visibilidade. De acordo com pesquisas da Google Brasil, a inclusão dos pretos e pardos no mercado de trabalho é o tema mais urgente para a população negra e agora cabe às empresas colaborar para que haja essa reparação histórica.

Esteves afirma que um dos pontos importantes é qualificar os negros que já componham o quadro de funcionários atual e investir em reestruturações da cultura organizacional para que o ambiente seja livre de preconceitos e estimule a participação ativa dos talentos negros da organização.

A pandemia que ainda estamos enfrentando exige do mercado uma resposta rápida para a recuperação econômica e, felizmente, os dados apontam que para que isso aconteça a diversidade dentro das empresas precisa existir. Times diversos promovem ambientes corporativos mais criativos, mais inteligentes, mais engajados, mais inovadores e por consequência, melhores experiências para os consumidores finais e melhores resultados para os negócios. É o que revela o estudo Diversity wins: How inclusion matters”, da McKinsey.

O estudo, que percorreu 12 países e ouviu mais de 1.000 empresas, constatou que as companhias que possuem diversidade étnica racial na alta liderança têm 33% mais propensão à lucratividade. Já aquelas que têm diversidade de gênero têm de 22% a 23% mais chances de serem lucrativas. Isso acontece por diversos fatores, desde maior confiança e prestígio dos consumidores até a formação de um time mais forte e unido com todas as habilidades necessárias para despontar no mercado.

A boa notícia é que algumas empresas importantes estão promovendo processos seletivos específicos para negros, ou com porcentagens das vagas direcionadas apenas aos profissionais negros e negras. Confira quais são elas: Bayer, Basf, Braskem, BRK Ambiental, Burguer King, B3, Pepsico, P&G, Santander, Suzano, Vale e Vivo. Em breve mais duas abrirão processos: Nestlé e Unilever.


 

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