Empresas familiares: a arte de passar o bastão

Empresas familiares: a arte de passar o bastão


Poucas coisas são tão difíceis quanto abrir mão de algo que faz parte de sua identidade enquanto indivíduo, algo que o define e que permeou toda sua vida. Exatamente por essa razão a hora de “passar o bastão” em um negócio familiar é tão complexa. A sucessão, seja ela com outros da família ou com um terceiro, é um momento delicado e que exige reflexão, segundo Ivan Lansberg, um dos maiores especialistas sobre sucessão familiar no mundo e autor de diversos livros sobre o assunto.

“Empresas familiares devem ser flexíveis em relação ao desenrolar do processo de aposentadoria da liderança. Quando gerida de maneira responsável, essa flexibilidade oferece aos proprietários da empresa mais opções para reconfigurar sua participação, prolongar sua contribuição e transferir o comando com mais esmero. Infelizmente, essa flexibilidade costuma ser abusada e a maioria dos líderes de empresas familiares não planeja sua aposentadoria. Muitos proprietários morrem no cargo – ainda controlando as decisões mais críticas sobre a família, a propriedade e a gestão. Poucos fazem preparativos para uma transição ordenada, frequentemente, comprometendo a continuidade do negócio e da família”, afirma Lansberg.

Para uma sucessão funcionar, é necessário ter muito claro como se quer posicionar o negócio no futuro. Definir um cenário estratégico para entender melhor que tipo de características deve possuir quem assumir o comando. O sucessor mais adequado não é, necessariamente, um espelho de seu predecessor. “Os fundadores, geralmente, olham seus filhos na intenção de procurar o que mais se parece com eles para ser o sucessor. Mas nem sempre as habilidades do fundador serão as mais exigidas para crescer no futuro”, comenta Lansberg.

Outro fator determinante é que o novo líder seja testado antes de assumir o posto. A exposição aos efeitos práticos do negócio ainda é o modo mais seguro de saber o quanto o sucessor está preparado. “Nunca coloque um sucessor que ainda não foi testado. É importante ter o maior número de informações possível. Do contrário, não só o negócio, mas também a família pode sair prejudicada”, explica Lansberg.

Líderes eficazes de uma empresa familiar têm de aprender a gerenciar as polaridades. “Acreditávamos antes que a melhor maneira de fazer isso era polarizar as contradições, tratando a família como família e o negócio como negócio. Hoje sabemos que, se bem gerenciadas, essas polaridades estão no cerne da maioria das empresas familiares de sucesso. Líderes eficazes aceitam a natureza paradoxal dessas empresas e valem-se das contradições para promover o crescimento e o desenvolvimento de todos”, finaliza Lansberg.

Fonte: Revista Administrador Profissional / Ano 38 / nº 345

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