Finanças comportamentais: armadilhas para seus investimentos

Finanças comportamentais: armadilhas para seus investimentos

Segundo Valter Police, em matéria para o Pensando em Dinheiro, as finanças comportamentais, que estudam o funcionamento de nossa mente sobre as decisões financeiras que tomamos, têm sido popularizadas em todo o mundo por grandes estudiosos do tema, como Daniel Kahneman, vencedor do Prêmio Nobel de Ciências Econômicas de 2002.

As finanças comportamentais, uma área de estudo dentro da Administração Financeira, podem nos ajudar a entender os gatilhos para as más decisões em relação aos investimentos que fazemos, evitando erros que podem nos custar muito caro e nos impedir de alcançar nossos objetivos financeiros.

Police enumerou as quatro principais armadilhas que afetam nossa mente quando decidimos optar por um determinado tipo de investimento. Dessa forma, podemos refletir antes de tomarmos a decisão de investir.

1) Viés para a ação
Em nossa cabeça, se algo aconteceu — digamos, com o cenário econômico, que pode ser uma subida ou queda nas taxas de juros, no câmbio, na inflação ou na Bolsa —, nós sentimos que temos que fazer algo com nossos investimentos e buscamos opções ou aconselhamentos que nos indiquem o que fazer, desde que seja fazer algo. Esse viés ainda é alimentado por um modelo de comercialização de investimentos que remunera melhor os fornecedores quanto mais os clientes giram suas carteiras: uma tempestade perfeita! Além de pagar mais comissões e impostos, esse viés tende a nos fazer sair dos investimentos antes de eles obterem uma boa performance e entrar em outros que já entregaram retornos, mas no passado.

2) Heurística da disponibilidade
Funciona como um atalho mental, que faz com que levemos os fatos recentes muito mais em consideração do que deveríamos, porque eles estão frescos em nossas mentes. Como exemplo, pesquisas indicam que a venda de passagens aéreas cai após um acidente com um avião comercial. No entanto, as probabilidades de um novo acidente ocorrer não se alteraram por esse fato, e esse meio de transporte permanece sendo um dos mais seguros já inventados pela humanidade.
Ainda assim, a heurística da disponibilidade atua e dá um peso maior do que o devido ao fato, nos fazendo muitas vezes optar por meios de transporte mais arriscados. Com relação aos investimentos, você já percebeu como a maior parte das pessoas escolhe um fundo para investir? Elas observam os retornos passados, em especial os períodos mais recentes, apesar de todas as comunicações dizerem que "retornos passados não são garantia de retornos futuros". Em nossa mente, aquilo que vem acontecendo tende a continuar acontecendo, o que não necessariamente é verdade.

3) Excesso de confiança
A terceira armadilha é o viés chamado de excesso de confiança, que, como o nome já indica, faz com que os investidores tenham convicção de que conseguem ler o mercado e tomar decisões mais assertivamente e até mais rapidamente do que grandes investidores profissionais. É como se eu ou você fizéssemos um curso de pilotagem de um fim de semana ou mesmo de alguns meses e pensássemos que poderíamos desafiar o Lewis Hamilton para uma corrida.
Novamente aqui a indústria de venda de produtos financeiros ou de informações sobre o mercado tenta convencer as pessoas de que, caso elas comprem seus produtos, elas poderão realmente ter um desempenho incrível ou, em outras palavras, ganhar do Hamilton. Os recursos financeiros e de pessoal, experiência e estudos acumulados pelas melhores equipes de gestão são incomparáveis com o que um investidor amador pode fazer — e deveríamos lembrar disso com alguma humildade.

4) Medo de ficar de fora
Por fim, a quarta armadilha se chama, em tradução livre, medo de ficar de fora (no original, "Fomo" ou Fear Of Missing Out). Quando ouvimos que determinado investimento tornou algumas pessoas milionárias, como aconteceu com os criptoativos e com alguns setores de ações no Brasil e no mundo, reforçamos um desejo intenso de não "perdermos o próximo trem". Esse medo de que todos estão ganhando muito e apenas nós ficamos para trás pode nos fazer tomar péssimas decisões, muitas vezes nos levando a cair em golpes, como pirâmides financeiras, ou mesmo investir em coisas sobre as quais não entendemos praticamente nada e, assim, muito provavelmente, perderemos dinheiro.

Depois de conhecer tais armadilhas, Police comenta que devemos adotar algumas ações para não cairmos nelas: emoções sob controle x empolgação, não se iludir com o imediatismo, evitar olhar os retornos de seus investimentos com muita frequência, tomar cuidado com conflitos de interesse e nunca nos esquecermos de priorizar nosso perfil de investidor.
 

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