Reflexões sobre a reforma trabalhista

Reflexões sobre a reforma trabalhista

As empresas são criadas tendo-se em mente um objetivo principal, o lucro. Isto ocorrerá quando as receitas (entradas no caixa) forem maiores que os gastos (saídas do caixa). Para aumentar seu lucro, as empresas devem adotar estratégias para aumentar as receitas e diminuir os gastos. Porém, para que o lucro não seja gerado somente no curto prazo, é imprescindível que tais estratégias não afetem os interesses dos stakeholders.

Stakeholders são todos aqueles que possuem algum tipo de interesse em relação à empresa, além, obviamente, dos proprietários que a constituíram. São exemplos de stakeholders: o governo, os fornecedores, os bancos, os clientes, a sociedade e os colaboradores. Algumas estratégias visando o aumento do lucro, mas que prejudiquem os stakeholders, podem até aumentar o lucro no curto prazo, porém, no longo prazo, poderão fazer com que o lucro diminua.

Na prática, o grande objetivo da reforma trabalhista que acaba de ser aprovada é alterar regras trabalhistas para que os empresários possam reduzir seus gastos com os colaboradores. A justificativa para tal reforma é o fato de os empresários alegarem que poderiam gerar mais empregos caso os gastos com os colaboradores fossem mais baixos. Isto é uma “meia verdade”, pois, na realidade, o que geraria mais empregos com qualidade, segundo a imensa maioria dos economistas, seria o crescimento econômico do país.

Porém, vamos admitir que os empresários tenham uma certa razão e a reforma trabalhista possa realmente fazer com que mais empregos sejam gerados. Por conta de diversos itens que compõem a reforma trabalhista, os novos empregos serão gerados com condições piores de trabalho e remuneração. Surge então uma pergunta: até que ponto os empresários deveriam comemorar? Realmente, poderá haver um aumento do lucro no curto prazo, porém, como eles acham que ficarão a motivação e o comprometimento dos colaboradores? Será que isso não comprometerá o lucro no longo prazo?

Será que os empresários, ao invés de lutarem por uma reforma trabalhista para reduzir seus gastos, não deveriam lutar, de forma mais veemente, por um reforma tributária? Não seria correto generalizar, mas em meus dez anos atuando como consultor financeiro, pude constatar que o maior gasto de uma empresa é com os tributos que incidem sobre o faturamento e o lucro (além de IPVA, IPTU etc.) e não com folha de pagamento e encargos trabalhistas.

O conflito entre o capital e o trabalho (empresários versus colaboradores) sempre existiu e sempre irá existir, porém, assim como todo relacionamento humano, é necessário muito bom senso para conduzi-lo. É importante lembrar que a empresa não sobrevive sem os colaboradores, assim como os colaboradores não sobrevivem sem as empresas. Portanto, ambos deveriam se encarar como parceiros, não como inimigos. Porém, atitudes unilaterais, como é o caso da reforma trabalhista que foi aprovada, poderão gerar imensos problemas futuros neste já conturbado relacionamento.

Em um primeiro momento, uma pessoa desempregada aceitará condições piores de trabalho e remuneração, pois precisa sobreviver. Porém, até que ponto sua motivação e comprometimento menores justificarão a redução do gasto e o consequente aumento no lucro no curto prazo? Sugiro que os empresários, antes de comemorarem a aprovação da reforma, reflitam sobre um ditado popular que se enquadra perfeitamente no tema que está sendo tratado: o barato poderá sair caro!

 

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