Você contrataria Bolsonaro para ser gestor da sua empresa?

Você contrataria Bolsonaro para ser gestor da sua empresa?

Quando utilizamos critérios passionais e não racionais para uma contratação, temos grandes chances de cometer um erro, ou seja, colocarmos uma pessoa “boa de papo”, mas incompetente, para assumir um cargo para o qual não possui capacitação. No caso de uma empresa, a solução é simples, basta demitir o fanfarrão. O problema é quando “contratamos” alguém, por meio de uma eleição, para gerir uma cidade, estado ou país, pois não há como demiti-lo.

Durante o segundo turno da última eleição para presidente, perguntei a alguns empresários se contratariam Bolsonaro para ser gestor das suas empresas. A imensa maioria disse que não, porém, diziam que votariam nele. Ao perguntar o motivo, comentavam que, quando ele assumisse a presidência, deixaria o “personagem” que criou de lado e assumiria a postura de um estadista. Diziam também que o país precisava de um “liberal”.

A verdade é que já se passaram 2 anos e ele ainda não assumiu a postura de um estadista e, até o momento, não adotou estratégias importantes para que pudesse ser classificado como “liberal”. O “mito” continua brincando de ser presidente do Brasil.

No primeiro turno da eleição passada, não votei no Bolsonaro e nem no Haddad. Portanto, como não sou adepto do voto nulo, precisei fazer uma escolha. Na ocasião, minha escolha foi amparada por um texto que li, escrito por Paulo Ferrareze Filho, doutor em Filosofia do Direito (UFSC), e publicado no site Justificando, em 24 de outubro de 2018. Acredito que o texto ratifique a importância de fazermos “contratações” utilizando critérios racionais e não passionais. Segue o texto na íntegra:

“O único modo de testar a competência técnica de alguém é avaliar a eficiência daquilo que ela faz. Todos em suas profissões têm missões, metas e objetivos a cumprir. Se a empregada doméstica não limpar bem, é pouco competente tecnicamente. Se o médico não conseguir curar, podendo, é pouco competente tecnicamente. Se o cineasta não conseguir encantar, é pouco competente tecnicamente.

Com políticos deve(ria) valer a mesma lógica. Promessas, currículos e contextos partidários podem seduzir ou macular a candidatura de alguém, mas não podem servir de régua para avaliar competências. Competência se mede com eficiência, com saber-fazer, com resultado. Competência é fazer bem feito aquilo que a função pede.

Claro que para governar o Brasil, além de competência técnica é preciso, antes, honestidade, especialmente nessa eleição que tem como pano de fundo o combate ao câncer da corrupção. Mas afinal, se cremos em nossas instituições e em nossas leis, ambos candidatos desse segundo turno são ficha limpa. Acusar de corrupto quem é, a princípio, honesto, é desonestidade de quem não quer falar sério sobre os rumos políticos do país.

Se promessas não são dados e ideologias não podem, por si sós, tornar um profissional mais ou menos eficiente, cabe analisar, inarredavelmente, a história de competência de alguém que se queira avaliar para determinada função. 

Bolsonaro, em 27 anos como profissional da política, aprovou 2 míseros projetos. A média de Bolsonaro é de 1 êxito profissional a cada 13 anos de trabalho. Bolsonaro, nesses 27 anos, já custou algo em torno de R$ 54 milhões aos cofres públicos… Tudo isso para, repito, 2 projetos. A julgar pela competência técnica, nenhuma empresa contrataria ou manteria o contrato de trabalho de um sujeito como Bolsonaro.

Ainda que tenha apresentado outros projetos, Bolsonaro não teve competência técnica – a competência estrita da articulação política – para aprová-los. Afinal, não é exatamente a negociação, em nossa particular política de coalizão tupiniquim, a competência das competências dos políticos?

Mas Bolsonaro pretende um cargo executivo. Se como legislador seu histórico é péssimo, como gestor e administrador ele é um absoluto inexperiente. Bolsonaro nunca administrou nada: uma bodega, uma banquinha de cachorro quente, um puteiro, uma empresa de pregos de aço ou uma banca de revistas.

Esqueça a questão partidária. Esqueça os discursos. Esqueça o lado da guerra política onde você pensa estar. Esqueça as sempre traiçoeiras promessas. Esqueça tudo isso e reflita: é esse sujeito que vamos contratar para administrar o Brasil?”

P.S.: tenho imenso orgulho em não ter contribuído para colocar esse “acidente histórico” na presidência do Brasil.
 

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