Aprendendo a Desfrutar o  Presente

Aprendendo a Desfrutar o Presente

Por Myrna E. C. Coelho Matos – Psicóloga Clínica e coordenadora do IACEP-Ribeirão Preto

Amar se aprende amando. Este é o título de um livro, escrito pelo poeta Carlos Drummond de Andrade, que me chamou a atenção por demonstrar o caráter operante do amor, apresentado como uma ação aprendida e aperfeiçoada na medida em que se pratica. Vejo que essa forma de pensar o amor pode ser também aplicada a outros sentimentos e ações de nossas vidas, pois, nesta perspectiva, aprendemos fazendo. Faço este prólogo para levá-lo a refletir sobre um tipo especial de aprendizagem que também necessita de aperfeiçoamento, que é “viver o presente”.  Fácil na teoria, difícil na prática, mas essencial para nossa felicidade.

No dicionário, o termo “passado” possui os seguintes significados: o que passou, decorrido, envelhecido, seco ao sol, diz-se do fruto que começa a apodrecer. Apenas com estas definições, já podemos concluir que viver no passado é viver no velho, no seco, no que já foi e não volta mais. Assim, como não posso estar vivendo em diferentes momentos ao mesmo tempo, quando revivo (vivo novamente) o passado, ausento-me das experiências que vivenciaria no presente. É isso que acontece com muitas pessoas que, devido estarem presas às lembranças do passado, principalmente as más, não conseguem prosseguir com suas vidas. É bem verdade que o que somos hoje é produto de tudo o que experenciamos até o momento presente. Conhecer nossa história e compreender o que se passou conosco nos leva ao autoconhecimento e nos ajuda a rever escolhas, acertos e erros, aspectos fundamentais para o nosso crescimento pessoal. Todavia, isso não significa que ficar chorando o leite derramado, repassando cenas de mágoas sofridas e ofensas vividas, nos levará a algum lugar melhor. Obviamente que não. Não há sofrimento presente que seja capaz de apagar uma vírgula sequer do nosso passado. Mesmo as experiências positivas de outrora precisam estar no seu devido lugar, de forma a evitar que nos apeguemos excessivamente a elas.

É comum ouvirmos: Ah! Meu emprego anterior era melhor! Meus amigos antigos eram melhores! Minha vida antes disso era melhor! Na verdade, esse apego à condição anterior se apresenta como uma grande fuga da realidade do presente, o que acaba nos paralisando e nos distanciando daquilo que deveríamos desfrutar. Se desejamos o novo em nossas vidas, precisaremos nos livrar do velho, daquilo que é passado. Isso não significa que devemos direcionar as nossas vidas apenas para o futuro, que é o outro lado da moeda e outro equívoco que normalmente cometemos. No dicionário, o termo futuro apresenta os seguintes significados: o que está por vir, que há de ser, tempo verbal que se refere a uma ação que ainda há de se realizar. Trocando em miúdos, viver no futuro é viver na imprevisibilidade, no nada, no que ainda não existe, é viver vagando em pensamentos ansiosos sobre o que será de nós e da nossa vida.

Com base nessas reflexões sobre passado e futuro, penso que não temos muitas escolhas, já que o único lugar que podemos, de fato, viver, é no presente, onde sentimos e respiramos. Para encerrar este artigo, deixo aqui como “presente” as definições do termo “presente”, que, por sinal, possui o mais belo significado: dádiva, oferta, que está a vista. Agora só nos resta decidir: Nós aceitaremos esta dádiva?

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