COMPREENDENDO A BULIMIA

COMPREENDENDO A BULIMIA

 Por Myrna E. C. Coelho Matos – Psicóloga Clínica e coordenadora do IACEP-Ribeirão Preto

 A preocupação e a insatisfação com as formas do corpo são traços característicos da cultura ocidental contemporânea. E é nesse contexto cultural que a sociedade atual tem legitimado e imposto um “padrão de magreza” quase doentio que tem induzido muitas pessoas – a maioria, mulheres – a se engajarem em dietas rígidas – as quais, na maioria das vezes, não levam ao resultado esperado. A bulimia nervosa, bem como outros transtornos alimentares, está intimamente ligada a esse contexto. As pessoas que apresentam este transtorno ingerem grandes quantidades de alimentos e depois utilizam de métodos compensatórios (vômitos autoinduzidos, uso de laxantes e/ou diuréticos e práticas de exercícios extenuantes) como forma de evitar o ganho de peso. Como geralmente não há perda de peso, familiares e amigos têm dificuldades de perceber o problema, tornando mais fácil para a pessoa que possui esse transtorno esconder o seu problema, mesmo com o grande sofrimento emocional e físico que a bulimia acarreta. 

Os bulímicos também apresentam um padrão de baixa autoestima, dificuldades em se socializar e interagir com outras pessoas, tendência em ter uma autoavaliação negativa, preocupação excessiva com opiniões alheias e sentimentos de falta de controle. Além disso, ao entrarem nesse ciclo de compulsão alimentar, seguido de comportamento compensatório inadequado, os bulímicos, em grande parte dos casos, tendem a se isolarem socialmente, já que se sentem incapazes de se controlar, o que contribui ainda mais para a manutenção das dificuldades relatadas. Em casos de bulimia nervosa, assim como em todos os outros casos, a terapia comportamental busca, antes de implementar qualquer outra estratégia terapêutica, identificar  as causas do problema.

O trabalho de intervenção envolve sessões de informações ao cliente a respeito da bulimia e sobre possíveis complicações clínicas e psicológicas, associadas aos métodos compensatórios, de forma a assegurar que o bulímico esteja ciente de que estas decorrências estão relacionadas ao transtorno alimentar. A história de vida da pessoa também necessita ser investigada, com o propósito de identificar vivências prévias do cliente e seus possíveis efeitos nos comportamentos atuais observados. Busca-se, contudo, fazer com que a pessoa possa ser capaz de identificar as causas de seu problema e, assim, consiga exercer maior controle sobre as causas e sobre si mesma. Também são implementadas mudanças de hábitos e rotinas, de forma a ampliar a exposição da pessoa a reforçadores sociais que diminuam os episódios relacionados ao comer compulsivo, vômitos e atividades físicas exageradas compensatórias. 

Enfim, os objetivos do tratamento consistem em melhorar o autoconhecimento, desenvolver  autocontrole e aumentar o repertório comportamental de autoconfiança, assertividade e valorização de atributos pessoais não ligados a aparência física. Muito mais do que simplesmente tratar um distúrbio alimentar, o tratamento da bulimia busca, principalmente, ajudar a pessoa a mudar sua relação com seu mundo, desenvolvendo sentimentos de maior satisfação em relação a si própria e em relação à vida.

Compartilhar: