BURNOUT: As consequências dos excessos no trabalho

BURNOUT: As consequências dos excessos no trabalho

 Por Myrna E. C. Coelho Matos – Psicóloga Clínica e coordenadora do IACEP-Ribeirão Preto

Uma vez ouvi a seguinte frase: “encontre algo que você goste de fazer e nunca mais precisará trabalhar”. Não seria maravilhoso se fosse sempre assim? Bastaria uma escolha bem feita, unindo nossas maiores habilidades com nossos principais gostos e preferências, e seríamos sempre realizados e felizes profissionalmente. No entanto, a realidade nos mostra um contexto muito mais complexo e desafiador.
Sabemos que o trabalho é fonte de dignificação do homem e que, além de nos proporcionar recompensas financeiras, possibilita que entremos em contato com experiências singulares e relevantes para a nossa formação enquanto pessoa e cidadão.   Nossos êxitos e conquistas elevam nossa autoconfiança e nos dá a sensação de utilidade e propósito na vida. Enfim, o trabalho pode sim ser fonte de satisfação e alegria. Mas nem sempre é o que ocorre, não é mesmo? Mas por que, não raro, o trabalho torna-se muito mais fonte de frustrações e desgastes do que de satisfação?
Buscando respostas para estas questões, falaremos de uma síndrome que cada vez mais tem atingido o homem moderno: a síndrome de Burnout. Esta síndrome deriva do estresse desenvolvido em função do trabalho exercido pelo indivíduo e é definida por alguns autores como uma das consequências mais marcantes do estresse ou desgaste profissional.  Vejamos alguns sintomas bastantes frequentes: diminuição da eficiência e produtividade, problemas de memória, dores de cabeça, fadiga, irritabilidade, insegurança na tomada de decisões, desatenção, lentidão de raciocínio e sensação de incompetência na execução de tarefas.
Estudos apontam que sobrecarga de trabalho, ameaça de perda de emprego, más relações interpessoais, entre outros, são alguns dos estressores relacionados ao contexto de trabalho. Uma atenção especial deve também ser dada à própria interação da pessoa com o contexto de trabalho, já que a dedicação exagerada à atividade profissional é uma causa importante no desenvolvimento de estresse. A competitividade acompanhada do desejo de ser sempre “o melhor” pode levar a pessoa ao limite de suas capacidades, expondo-a ao esgotamento e a doenças.
É importante lembrar que é tênue a diferença entre ser diligente, buscando excelência no trabalho, e ser obcecado pelas suas atividades profissionais. No entanto, é necessária uma avaliação cuidadosa e um bom grau de autoconhecimento e autocrítica para essa diferenciação.  
Muitas pessoas condicionam seu valor próprio a sua capacidade de realização e sucesso profissional. Assim, quando algo não vai bem no trabalho e diante das inevitáveis frustrações, a pessoa começa a por em dúvida seu valor como pessoa. Portanto, mais do que diligência e excelência, a busca da realização profissional transforma-se em perfeccionismo, compulsão e vício.
Não somos perfeitos e é impossível sermos competentes em tudo. Quando as exigências do meio ou a autoexigência excedem nossas capacidades, abrem-se as portas para o Burnout, que pode, muitas vezes, por em risco não apenas o trabalho e a produtividade da pessoa, como também seus relacionamentos afetivos e a sua própria saúde. Concordo que quando se encontra algo que se ama, não é preciso mais trabalhar, mas é preciso equilíbrio e moderação para que o amor pelo que se faz não seja maior do que o amor por si mesmo e pelo próximo.

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