Como lidar com a BIRRA!

Como lidar com a BIRRA!

Como lidar com a BIRRA!

Por Myrna E. C. Coelho Matos | Psicóloga Clínica Comportamental

O choro do bebê é uma forma importantíssima de comunicação dele com o mundo e um comportamento inato, ou seja, não necessita ser aprendido. Com o choro, ele demonstra que está com fome, com dor ou com algum desconforto e é, também,  uma forma de conseguir atenção, cuidado e proteção. Dessa forma, desde bebê, a criança percebe que, quando chora, consegue que suas necessidades sejam atendidas.

Assim, com o tempo, o choro, que antes tinha apenas a função de sobrevivência, adquire novas e variadas funções como conseguir colo, carinho e atenção, o que faz com que o ato de chorar deixe de ser apenas um comportamento reflexo, tornando-se uma estratégia para se obter aquilo que se deseja. Nesse estágio, se os pais não estiverem atentos e passarem a recompensar o choro indiscriminadamente, poderão fortalecer comportamentos de manha de seus filhos.

Uma criança mimada ou birrenta é aquela que aprendeu a ter, frequentemente, suas necessidades atendidas ao gritar, berrar ou protestar. Geralmente, são crianças mais agitadas intranquilas e que sofrem emocionalmente. Quando um simples grito não resolve seu problema, ela aumenta a intensidade do grito ao ponto de quase enlouquecer os ouvintes.

A birra é um estimulo muito aversivo para pais e cuidadores gerando irritabilidade, impaciência e descontrole, de forma que é comum presenciarmos alguns pais que, para acabar com a situação incômoda provocada pela birra de seu filho, acabam por ceder aos desejos da criança. Após ceder a um acesso de birra o sentimento dos pais é de alívio pois, o choro cessa e a criança fica feliz e saltitante, até a próxima vez em que for contrariada.

Ao ceder, os pais resolvem temporariamente uma situação, mas acabam por recompensar e fortalecer os comportamentos inadequados de seu filho fazendo com que a criança fique cada vez mais birrenta. De fato, não é fácil lidar com uma criança esgoelando em uma festa ou em um supermercado, pois além de ser enervante, submete os pais a um pequeno “vexame”. Então, é natural que a maioria dos pais acabe caindo nas armadilhas da birra, cedendo ou tentando negociar com uma criança descontrolada. Porém, em casos de birra, ceder, bater, gritar ou tentar argumentar são estratégias geralmente ineficazes.

Estudos mostram que a falta de efetividade em disciplinar o filho leva a criança a descobrir que comportamentos como choramingar, lamuriar, gritar ou ter acessos de raiva serão eficientes para conseguir o que quer. Os filhos precisam entender que nada conseguirão de seus pais enquanto estiverem fazendo birra. A birra precisa ser ignorada de forma persistente. Ignorar é a forma mais eficiente para levar a criança a entender que a birra não será mais recompensada. Para isso, os pais precisarão ser mais resistentes que a criança, pois quando os pais passarem a ignorar a birra, a criança tenderá a piorar o seu comportamento, até perceber que os pais, de fato, não cederão.

Nesse processo, que pode ser chamado de EXTINÇÃO DE COMPORTAMENTO, os pais precisam ser consistentes e persistentes, pois a criança irá testá-los ao máximo. Esse processo poderá levar dias ou semanas, dependendo da gravidade do problema da criança e da e consistência que for colocada em prática pelos pais.

No entanto, comportamentos que envolvam riscos para a criança ou para outros (pegar um objeto cortante, debruçar em uma janela etc.) não poderão ser ignorados. Nesses casos, os pais devem conter a criança, colocando-a em uma condição segura e continuar ignorando a gritaria.

Os pais devem proceder da mesma maneira quando a birra ocorrer em locais públicos, como shopping, igreja, festinhas, etc. Nesses casos, se retire com a criança para um local mais isolado e diga a ela que não voltarão até que ela se acalme.

Nas primeiras vezes, esse tempo pode ser demorado, mas nas próximas a criança tende a “desistir” mais rapidamente.

Uma dica importante: JAMAIS IGNORE A CRIANÇA. Apenas os comportamentos inadequados da criança devem ser ignorados, ao mesmo tempo que o bom comportamento deve ser elogiado e recompensado com carinho, afeto e atenção.

Segundo Lyn Clark, autor do livro SOS ajuda para pais, o bom e o mau comportamento são formados pelas consequências que as crianças recebem por eles. E por falar em SOS, recomendo o livro citado. Tenho certeza que será de grande ajuda para muitos pais que sofrem com a birra de seus filhos e não sabem o que fazer.

 

Myrna E. C. C. Matos 
Psicóloga Mestre em Psicologia da Infância e Adolescência pela UFPR
Especialista em Psicoterapia Comportamental-UEL | Fundadora do IACEP - Ribeirão Preto 

 

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