Compreendendo a Raiva - Texto 1

Compreendendo a Raiva - Texto 1

A raiva é uma reação natural e importante para nossa sobrevivência. Então, por qual motivo ela pode ser uma causadora indireta de grandes estragos nos nossos relacionamentos e nas nossas vidas? Por quais razões,  normalmente, não lidamos bem com ela? É possível administrar a raiva e usá-la de forma produtiva em nossas vidas? Para responder essas e outras perguntas postarei um texto, dividido em 3 posts, escrito pela psicóloga e autora Marilda Lipp. De forma bastante esclarecedora a autora leva o leitor a uma compreensão do assunto, dando-lhe instrumentos  comportamentais muito importantes para administração saudável da raiva. 

O que é raiva?

Escrito por Dra Marilda Lipp

A raiva é uma sensação composta de 3 componentes que interagem um com o outro (pensamento avaliativo, mudanças físicas e comportamento de raiva) que ocorrem frente a um acontecimento desencadeador. Estes 3 componentes são capazes de influenciar um ao outro aumentando a intensidade da sensação. Pensamento avaliativo quer dizer o modo como interpretamos uma situação e acontecimento desencadeador se refere a algum evento externo, ou seja, uma provocação. Comportamento de raiva quer dizer o que a pessoa faz quando está na situação que lhe dá raiva.

No exemplo a seguir pode se verificar a interação dos 3 componentes da raiva.

Exemplo: se o marido deixa de fazer o que a mulher espera (a provocação), ela pode ter um pensamento avaliativo do tipo “ele nunca faz o que quero, droga, ele não presta mesmo!” Neste momento, o corpo reage e mudanças físicas ocorrem, o coração bate muito rápido, os músculos ficam tensos, a respiração fica ofegante e uma sensação de sufoco ocorre. Ao notar essas reações físicas a esposa pode ter outro pensamento avaliativo “Puxa, ele me dá uma raiva!” O cérebro imediatamente percebe essas reações, aumenta a raiva e deslancha o comportamento de raiva que pode ser brigar, gritar, ir embora, ficar calada etc. Este comportamento de raiva, por outro lado, tem o poder de aumentar mais ainda a raiva que a pessoa já sentia.

Outro exemplo: se alguém nos faz uma injustiça (a provocação) podemos avaliar o que ocorreu pensando “que desaforo, não posso deixar isto acontecer”. Neste momento, nosso corpo vai reagir com aceleração das batidas do coração, com tensão muscular, a respiração fica ofegante e sensação de sufoco que faz aumentar a raiva. ÀS VEZES, A RAIVA VAI CRESCENDO CADA FEZ MAIS DENTRO DA PESSOA ATÉ POR HORAS. NESTES CASOS FICA DIFÍCIL PARAR A RAIVA QUE JÁ CRESCEU MUITO. A seguir, é provável que façamos algo, para demonstrar que estamos com raiva, maior do que a situação merecia.

Resumindo, o processo da raiva ocorre do seguinte modo:

Algo acontece na vida da pessoa:

1. ela interpreta o que ocorreu como uma afronta, ameaça ou injustiça pessoal (pensamento avaliativo)
2. o funcionamento do seu corpo sofre mudanças: o coração bate rápido, os músculos ficam tensos e há a sensação de sufoco
3. o comportamento agressivo ocorre (ou raiva para dentro ou para fora)

Tenho o direito de ter raiva?

Todo mundo tem o direito de sentir. Raiva é um sentimento, portanto, temos o direito de sentir raiva. Não é errado sentir raiva, o que pode ser errado é o modo como a expressamos, o que fazermos com ela. Não é necessário ter culpa por se sentir com raiva, mas reconheça que ela só é válida se estiver ajudando a pessoa a resolver o problema. Sempre pergunte a si mesmo se sua raiva está dentro do razoável e se você está sabendo fazer uso dela. Raiva dá energia e vigor e portanto pode ser útil para nos proteger de injustiças e abusos, porém ela deve ser mantida sob controle e usada de modo construtivo. A raiva passa a ser um problema quando ela é freqüente demais, intensa demais, quando dura muito , quando leva a agressão e violência e quando interfere nas relações interpessoais.

 

Dra Marilda Lipp é fundadora do Instituto de Psicologia e Controle do Stress 

 

 

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