Desfrutando da viagem

Desfrutando da viagem

Por Myrna E. C. Coelho Matos – Psicóloga Clínica e coordenadora do IACEP-Ribeirão Preto

Abaixo, um texto de Leslie Cameron-Bandler, psicóloga internacionalmente reconhecida, para nos estimular a curtir o caminho e não somente a chegada! 

Há muitas maneiras de chegar a um lugar. Um homem que trabalhou arduamente o ano todo tem férias de apenas duas semanas. Duas breves semanas, nas quais deve fartar-se de prazeres depois de um ano de trabalho. Que frustração concentrar o prazer aguardado durante um ano em duas semanas!
Em geral, ele escolhe um lugar onde passar seu período de férias. Uma vez escolhido o lugar, ele talvez o localize num mapa e, nesse mesmo mapa, talvez escolha o caminho mais rápido para alcançar seu destino. Talvez até mesmo encontre um atalho, tão grande é o desejo de chegar ao destino escolhido. E talvez tudo corra muito bem. Mas é assim que ele passa toda a sua vida, decidindo para onde quer ir e escolhendo o caminho mais curto para chegar lá.
E os outros que, talvez, queiram viajar com ele? E as aventuras e prazeres imprevistos, ignorados porque a atenção estava toda voltada para o ponto de chegada? E por que este homem tomaria o mesmo atalho para o mesmo destino, ano após ano? Isto é, até um certo ano. Quando uma coisa boa aconteceu. Naquele ano, um amigo ia para o mesmo local: o Grande Canyon. Era para lá que ambos iam. E era lá que ambos haviam estado. Mas o amigo ia dirigindo. E não tinha pressa de chegar. Nem mesmo tinha um mapa ou uma rota, mas mesmo assim tinha absoluta certeza de que chegaria ao lugar desejado e estava feliz em demorar todo o tempo do mundo para chegar lá.
No início, o homem estava impaciente. Mas depois ficou curioso e mesmo seduzido pelo que aquele jeito tão estranho de viajar tinha a oferecer. Pois faziam qualquer coisa que tivessem vontade de fazer. Desviavam-se do caminho, surpreendendo-se e adorando o que encontravam. E, não importa aonde fossem, aproximavam-se cada vez mais do Grande Canyon. Às vezes, quando o homem gostava especialmente de um desses desvios, não queria ir embora. O amigo o convencia a prosseguir, lembrando-o de que ‘sempre se pode voltar sempre que se quiser’. Só assim o homem prosseguia. Ficaram ambos surpresos quando chegaram ao Grande Canyon. Tinham estado tão absorvidos em cada fase da viagem que a chegada foi um prazer inesperado.
O amigo desenhou o caminho por que tinham vindo: ‘Você pode vir por este caminho, por este ou por aquele. Há tantos caminhos para se chegar quanto são os prazeres que se pode ter.  Alguns rapidamente, outros devagar. Não importa. O que importa é estar no lugar em que se está no momento, em vez de estar no lugar aonde se quer antes de chegar lá. Não se perde nada em estar sempre no lugar em que se está. E, ano após ano, ele e o amigo viajaram para lugares conhecidos e desconhecidos, confortavelmente e com muito prazer.

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