Reconciliação

Reconciliação

 Por Myrna E. C. Coelho Matos – Psicóloga Clínica e coordenadora do IACEP-Ribeirão Preto 

https://www.psicologaribeiraopreto.com/ 

Conversando com meus botões sobre o tema reconciliação, uma palavra não saía da minha mente: sacrifício. Num primeiro momento, parece que os dois termos não possuem relação alguma, mas se prestarmos atenção, veremos que as nossas atitudes nunca andam sozinhas e que “reconciliação” e “sacrifício” podem perfeitamente caminhar de mãos dadas, assim como a “gentileza” associa-se ao “cuidado” e a “responsabilidade” à “disciplina”. Consultando o dicionário, podemos ver que o verbo reconciliar é definido como: tornar amigos pessoas que se mal conquistaram, congraçar, harmonizar, enquanto que a palavra sacrifício é definida como privação voluntária ou forçada de um bem ou de um direito, renúncia a favor de outrem.

A partir dessas definições, podemos concluir que, muitas vezes, para que haja reconciliação é necessário que assumamos uma posição de renúncia a favor de outrem. No entanto, não é tão comum presenciarmos pessoas assumindo tal posicionamento. Talvez porque vivemos em uma sociedade que valoriza e prega a defesa do “eu” e faz com que as nossas prioridades estejam associadas ao “que eu quero”, ao “que eu sinto” e ao “que me faz feliz”. O curioso é que, mesmo agindo desse modo, não entendemos por que aparecem problemas em nossos relacionamentos. Temos a ilusão de que podemos viver para nós e por nós mesmos, sem que isso não afete profundamente nossos relacionamentos e, por consequência, nossa própria vida. 

Relacionar-se é algo complexo e é necessário que ponderemos nossas atitudes em cada situação, com a consciência de que alguns relacionamentos são preciosos demais para serem descartados. Muitas vezes, sentimos falta de uma pessoa de quem estamos afastados, mas não agimos para buscá-la de volta, impedidos pelo nosso orgulho e passividade.

Como voltar a ser amigo de quem me magoou? Como conversar com aquela pessoa que me feriu tão fortemente? Como me relacionar com quem me ofendeu e me traiu tão injustamente? Só há uma ação: renunciar. Renunciar ao meu orgulho, à minha justiça própria e às minhas razões, a favor de outrem. No entanto, é preciso lembrar que, para que haja reconciliação, o sacrifício jamais pode ser forçado. Ele deve ser fruto de uma escolha voluntária com a consciência de que, muitas vezes, precisamos perder para ganhar.

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