Sendo pais em vez de amigos

Sendo pais em vez de amigos

(Um artigo de THAIS SOUZA - PSICÓLOGA CLÍNICA responsável pelo site www.psicologiaemcasa.com.br - adaptado por mim)

Como você se avalia como pai/mãe? 
Após ter escrito o plano Criando filhos emocionalmente inteligentes, fiquei pensando em como é difícil participar adequadamente da educação de um filho quando nós mesmos não sabemos lidar com nossos sentimentos, com situações da vida, quando não temos autocontrole, quando não sabemos ser assertivos, quando não sabemos ser afetuosos e equilibrar isso com a colocação de limites, quando não sabemos perdoar ou quando temos dificuldades em pedir perdão. Não tem como querermos ensinar algo que não sabemos. E, em se tratando de crianças, elas apreendem com aquilo que observam. 
O processo de aprender a viver, às vezes vai acontecendo simultaneamente com o de educar filhos. Ao mesmo tempo em que você amadurece, vai amadurecendo na maneira de conduzir a vida do seu filho. Mas é preciso que esta seja uma decisão intencional: a de se conhecer, a de se ajustar para que seja um facilitador do processo de educação do seu filho, e não um perturbador.
Estamos vivendo em um tempo no qual grande parte dos adultos não querem crescer. Fazem de tudo para permanecerem jovens. Assim, vemos adultos com a timeline de suas redes sociais cheias de fotos de si mesmos, agindo impulsivamente, tomando decisões como faria um adolescente, e tem aqueles que mantêm uma postura com seus próprios filhos como se fossem amigos. 
Alguns estudiosos da área da psicologia têm observado como temos uma geração de filhos órfãos de pais vivos. São aqueles que evitam dizer "não" porque sabem o trabalho que será lidar com as birras, choros, ou insistências. São aqueles que adaptam princípios para não terem que ensinar. São aqueles que dão tudo para compensar a culpa que sentem por não estarem "ali". Tornam-se companheiros, em vez de pais. Apenas curtem juntos o momento, trocam ideias, fazem planos, concordam, alteram regras para serem "legais". Não que não possamos ser amigos de nossos filhos, mas amigos não disciplinam, não corrigem, não orientam, não são responsáveis por direcionar a vida dos outros. No entanto, nossos filhos têm ou terão amigos, e precisam ter pais também. Precisam ser direcionados no que podem ou não, no que precisam fazer e no que devem evitar. 
O papel dos pais não é sempre confortável. Ensinar, orientar, disciplinar são tarefas desconfortáveis porque muito provavelmente serão inicialmente recebidas com certa resistência. No entanto, os filhos não amam mais os pais que dão tudo. Deixar que façam ou que tenham aquilo que desejam sempre não é garantia de felicidade, de autoestima, de segurança, nem de amor. 
Como psicóloga, observo constantemente crianças que muito têm, e que têm permissão para tudo, mas são infelizes, irritadas, ansiosas, insubmissas, inconstantes. Não aprendem a realidade da vida. Não aprendem a dar, não aprendem a esperar, não aprendem a valorizar, não aprendem a agradecer, porque aprenderam – seus pais as ensinaram – que o mundo gira em torno delas. Tiveram pais que foram amigos, mas que 
não foram pais.

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