
Você tem brincado com seu filho?
Por Myrna E. C. Coelho Matos – Psicóloga Clínica e coordenadora do IACEP-Ribeirão Preto
Creio que todos já ouviram alguém dizendo: “a melhor época da minha vida foi a infância, quando podia brincar muito e ter poucas responsabilidades”. Fico imaginando se as crianças da atual geração também dirão isso um dia, já que muitas delas não estão conseguindo aproveitar plenamente a sua infância. Isso me fez recordar de um menino de oito anos, em seu primeiro dia de atendimento na minha clínica. Lembro-me que, na primeira sessão, apresentei a ele a sala de terapia infantil, assim como o armário repleto dos mais diversos jogos e brinquedos. No entanto, mesmo diante da diversidade de recursos lúdicos, ele se mostrou desapontado, queixando-se: “não tem vídeo game? Ai, que chato!”
Seu queixume não me surpreendeu, pois, como psicóloga clínica, que também atende crianças, já estou acostumada a me deparar com tais preferências e interesses infantis. Entretanto, penso que as crianças, muitas vezes, não diversificam suas brincadeiras porque não são motivadas suficientemente para isso. Depois de algumas sessões, este meu cliente mirim, estava curtindo os mais diferentes jogos e brincadeiras lúdicas que eu propunha para ele. A partir disso, começou a pedir para seus pais que comprassem e brincassem com ele com os jogos que ele havia conhecido na clínica. Fiquei feliz por tê-lo ensinado a variar a sua forma de se divertir e aprender.
Essa reflexão trouxe-me lembranças de como aprendi a jogar xadrez. É verdade que não me tornei uma exímia jogadora, mas o que foi curioso na minha iniciação a este jogo foi que o meu professor era um garotinho de 08 anos de idade. Lembro-me que, durante “nossas aulas”, era maravilhoso ver, em seu semblante, o orgulho de si mesmo, afinal, estava ensinando algo importante para um adulto. Assim, enquanto eu me aprimorava nas regras e táticas desse jogo, nosso vínculo afetivo se fortalecia e sua autoconfiança crescia a cada dia. E autoconfiança era tudo o que ele precisava desenvolver naquele momento de sua vida.
Com essa experiência, aprendi não apenas um jogo, mas uma lição: o lúdico é um excelente caminho para se chegar até o coração e a mente das crianças, pois poossibilita que estas sejam estimuladas a expressarem suas reações mais espontâneas, oportunizando situações nas quais podemos efetivamente conhecê-las e ajudá-las. Brincando, as crianças aprendem a esperar a sua vez, resolver problemas, defender-se e respeitar a vontade do outro. Brincadeiras também propiciam o ensaio de papéis sociais, como, por exemplo, vivenciar o lugar da mãe, do pai, do bombeiro, da professora e do super herói. Enquanto a criança brinca, ela explora o ambiente, desenvolve criatividade, melhora sua capacidade de comunicação e expressa pensamentos e sentimentos.
Concluindo, ressalto que toda criança precisa de alguém que aceite e queira entrar em seu mundo, mesmo que seja apenas por alguns momentos, e a brincadeira é o passaporte para lá. Pode ter certeza que vale muito a pena brincar com seu filho! Ah! Mas não adianta fingir que está se divertindo e envolvido quando, na verdade, não está. Ele não é bobo e perceberá e demonstrará sua insatisfação. Se você se dispuser a reaprender a brincar genuinamente, poderá se surpreender com os resultados. Afinal, todos nós sabemos que quando estão brincando, até os adultos viram crianças! Espero que você não tenha esquecido que um dia também foi criança e que... ADORAVA BRINCARRRRRRR!!!!!