Um copo vazio está cheio de ar
Nossa existência vai adquirindo, ao longo do tempo, roupagens, marcas, histórias e em certos casos, ruínas.
Ruínas, estas, que podem nos marcar profundamente e nos colocar em um lugar de imutabilidade.
A imutabilidade pode vir acompanhada com um sentimento de vazio, como se nada pudesse mais existir ou se não existisse dentro de nós.
Porém, se olharmos à fundo o que está presente nesse vazio, ele pode estar muito cheio. Cheio de raiva, de angústia, de medo, de vida, de vida sim, porque todo esse sentimento "ruim" realiza algum tipo de movimento.
Em psicoterapia/análise podemos expor esse vazio, conversar com ele, elaborar e sentir que podemos dar novos significados e rumos, mas que acima de tudo, podemos sentí-lo.
Trago a letra desta música de Chico Buarque para ilustrar tão perfeitamente o quanto podemos nos sentir, muitas vezes, vazios, mas que lá no fundo, escondido existe muito.
"É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar.
É sempre bom lembrar
Que o ar sombrio de um rosto
Está cheio de um ar vazio,
Vazio daquilo que no ar do copo
Ocupa um lugar.
É sempre bom lembrar,
Guardar de cor que o ar vazio
De um rosto sombrio está cheio de dor.
É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar.
Que o ar no copo ocupa o lugar do vinho,
Que o vinho busca ocupar o lugar da dor.
Que a dor ocupa metade da verdade,
A verdadeira natureza interior.
Uma metade cheia, uma metade vazia.
Uma metade tristeza, uma metade alegria.
A magia da verdade inteira, todo poderoso amor.
A magia da verdade inteira, todo poderoso amor.
É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar."
Um abraço, pessoal.
Foto: @anna_cunha