Baía de Guanabara...

Baía de Guanabara...

     Sentado em um pequeno banco à beira da praia, meus olhos descansam nas águas serenas da Baía de Guanabara...  Pequenos barcos pintados de branco singram suavemente a água deixando rastros de ondas  entrecortadas que se tornam paralelas,  que se fundem  depois de algum tempo  e correm para a praia para  beijá-la  e  abraçá-la formando uma renda de espuma que aos poucos vai desaparecendo  de costas para um mar que não tem porteiras...  Lentamente vou percorrendo a imensidão das águas com meus olhos distraídos e sonolentos... Os navios brancos vão marcando o fim ou o começo do horizonte, já nem sei, com meu olhar perdido sobre as águas...  Lá no fim... Seria o fim?  Vejo o sol se despedindo jogando em minha direção seus cabelos louros em forma de raios brilhantes coloridos com o melhor ouro imaginado! Minhas pálpebras abrem-se um pouco mais para ver o astro rei  mergulhando nas águas do ocidente! Parece que o vejo na crista da última onda que está fazendo a curva do horizonte! Viro-me e olho para o Cristo Redentor! Não o vejo de braços abertos querendo dizer ao mundo que ali está para abençoar a felicidade de todos sob os seus pés, mas, de braços cruzados num sinal claro de que está enviando um abraço para o sol que se despede, naquele maravilhoso outono que traz a brisa fresca em sua  roupagem de nova estação! Olho para o rosto do Cristo e vejo-o sorrindo, como nunca havia visto! Aliás, nunca vi Cristo sorrindo, antes desse maravilhoso fim de tarde! Foi a primeira vez que o vi assim! Talvez a última!  Levanto-me do banquinho em que estava sentado para mandar o meu agradecimento ao pequeno topete dourado do sol, que se afunda nas águas! Sinto que o meu olhar juntou-se ao olhar do redentor para com ele perseguirmos os últimos raios de ouro que desapareciam afogados pelas águas!   Nesse momento sinto que estou flutuando e me perdendo na linha desse infinito.

       Se meu olhar se perde na linha intrincada do horizonte, que me parece p infinito, meu pensamento viaja mais além, sem limites!  Sinto que meu olhar deixa a praia, o Cristo, a linha do horizonte e caminha com os raios do sol para o outro lado do mundo! Sinto-me sobre os  raios do  sol a viajar sobre todas as águas, todas as ilhas, todas as florestas e a despedir-me delas como se estivesse fazendo a minha última viagem para onde  o sol começa a olhar, com olhar descansado e renovado! Dali vejo outro amanhecer! O orvalho enfeita as plantas, a brisa é mansa e empurra lentamente a água cor de prata dos riachos! Os pássaros são azuis, verdes e amarelos! As frutas são amarelas e vermelhas! A cor enfeitiça minha alma! As grandes borboletas azuis e amarelas concorrem com o arco-íris que tenta brotar do sopé de uma grande nuvem que para mim é uma montanha cor de rosa que vaga no céu, carregada de flores perfumadas! Eu, cavaleiro do sol em meu cavalo de crinas douradas, acordo nesse outro lado do mundo! Que mundo maravilhoso eu vejo lá de cima! É um mundo sem maldade, sem correria, sem perseguição, sem ódio, sem dor! Um mundo onde não há patrão nem empregado, não tem automóvel e avião, dinheiro e corrupção! Vejo uma Guanabara limpa, de águas brilhantes, recebendo com paz e harmonia seus 55 rios e riachos com suas águas cristalinas, com todos os seus mangues renovados à época do início do  século XVI, quando aqui aportou Cabral!   Vejo uma nova Guanabara, jovem, sem ponte Rio Niterói, sem aterro do Flamengo, sem poluição, com toda a área dos mangues, todos os golfinhos, toda a Mata Atlântica, todos os índios que ali viviam,  moravam e eram felizes!

   Que sonho maravilhoso eu tive contigo, minha maravilhosa Baía de Guanabara! Foi sonho ou foi uma busca interior que tive necessidade de externar para o meu deleite e talvez de mais alguém! Seja lá o que tenha sido, valeu a pena!

      Ah! Baía de Guanabara! Como tu eras e como estás hoje! Antes, eras a menina inocente, de pés descalços! Eras  bem comportada, tinhas a beleza maravilhosa de tua inocência e de tua virgindade! Hoje és uma senhora de meia idade, com saltos altos, com inúmeras cirurgias plásticas, com algumas doenças próprias do desgaste dos anos e dos micróbios que por querer ou não, foste adquirindo em teu eterno caminhar, pelos inúmeros casamentos que tivestes com centenas de políticos que quiseram te mostrar os caminhos a serem percorridos!  Tu, entretanto vens resistindo aos egotismos desses políticos e procuras seguir os caminhos da tua independência! Ainda és bela! Ainda mexes com o coração do brasileiro e do estrangeiro! Que o Cristo Redentor jamais desça de seu pedestal! Ele é o teu protetor! Não deixes de olhar para Ele!  Não deixes de sonhar e provocar sonhos em teus admiradores!  Tu és o espelho da alma deste nosso querido Brasil!

Compartilhar: