As árvores da cidade

As árvores da cidade

Tenho um dó imenso das árvores da cidade!  Há dias olhei do alto do meu apartamento  um ipê roxo repleto de flores maravilhosas! Que belo espetáculo! Não me contive e fui até ele! Flores roxas caiam sobre a minha cabeça, a calçada e a rua! Um perfume agreste dominava o ambiente! Fiquei boquiaberto ao ver tanta beleza! Não gostei, entretanto ao ver o massacre das flores esmagadas sob as rodas dos carros que passavam em um atropelamento que parecia atropelar a minha alma!

          O ipê estava lindo, mas eu fui sentindo dentro do meu coração que ele estava ficando triste ao ver o massacre de suas flores! Ele estava triste e sabia que os homens eram apressados e mal educados! Ele nada poderia fazer!

          Uma brisa fresca começou a agitar os galhos dele e ele passou a jogar mais flores sobre a calçada, minha cabeça e a rua! As pétalas fizeram um grande tapete roxo na calçada e um pequeno "rastro de sangue" feito pelas flores destruídas pelas rodas dos carros!

       Veio um vento mais forte e passou a levar as flores para mais longe, como se quisesse proteger as flores dos famigerados carros que não paravam de passar!  Elas voavam ou corriam pela calçada tentando atingir o infinito! Várias pessoas que passavam paravam para ver o grande espetáculo!

      As flores continuaram caindo por alguns dias! Eu acompanhava a queda delas do alto do meu aparamento! O espetáculo continuou até a queda da última delas!

      Poucos dias depois, voltei a olhar para o grande ipê roxo! Ele estava carregado de vagens verdes como  o verde de suas folhas! As vagens foram crescendo e mostrando  outro espetáculo que trocava a beleza das flores pela abundância das sementes!  Quantas sementes deveriam estar dentro daquelas vagens compridas e rechonchudas! As vagens eram grossas e substanciosas! Guardavam grande quantidade de alimentos para assegurar o bom desenvolvimento das sementes!

       Os dias foram passando lentamente enquanto eu observava o crescimento das vagens e as suas engordas. Alguns dias depois elas pararam de crescer e de engordar, começaram a perder a cor verde que era trocada por cor acinzentada. Elas começavam a amadurecer. As sementes  estavam ficando prontas para serem desovadas e elas, prontas para dar o grande voo com o

vento!

       Um novo espetáculo começou a aparecer com a abertura das vagens e a liberação das sementes, quase aladas que voavam com o vento!

       Fiquei enraivecido quando notei que grande maioria delas batia e caía na calçada do vizinho! A calçada era de concreto e as pessoas começaram a esmagar as sementes, uma a uma!

     Senti que o ipê estava, de novo, triste! Senti que ele estava se sentindo ultrajado! Tanto trabalho! Tanto gasto de energia! Tudo para nada! As pessoas passavam com seus sapatos largos e quase disformes nas suas correrias para o trabalho, esmagando o que encontravam pela frente como elefantes de patas largas em suas coridas para a água do pequeno riacho que ainda permanecia no pequeno oásis do deserto!

        Desci do meu apartamento e corri para salvar algumas sementes! Senti que o ipê voltou a ser feliz, alguém havia entendido o seu trabalho, a sua determinação que em condições  adversas teimava  embelezar a cidade e entusiasmar o coração dos homens!

      Guardei as sementes, após mostrá-las para o ipê que me parecia  sorrir. Voltei ao meu apartamento! Qualquer dia as levarei para plantá-las em campo fértil, sem ruas, sem asfalto, sem calçadas, sem pessoas com seus sapatos esborrachados, verdadeiros paquidermes humanos que tudo destroem!

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