Bicho de pé

Bicho de pé

 

  Não interpretem de modo errado os maliciosos e desconfiados, ao lerem o título em epígrafe! Vou falar nesta crônica sobre o bicho de pé, aquela pulguinha muito comum nas fazendas  mais antigas, onde os caboclos criavam porcos e outros animais  ao redor das casas, sem se preocuparem com a higiene do ambiente. As famosas "batatinhas" que se formavam nos pés  das pessoas que moravam nas fazendas eram muito comuns em adultos e crianças. Como médico atendi inúmeros casos de ataques de bichos de pés, não somente nos pés, mas em outras partes do corpo. Hoje estão raros.

  A pulga referida tem o nome de Tunga penetrans. Ela tem preferência pelos pés e neles, entre os dedos, debaixo das unhas das partes anteriores e laterais e também da sola dos pés. Fertilizada, a pulga necessita de muita alimentação e  a alimentação preferida por ela é sangue e outros líquidos intracelulares e extracelulares. Bem alimentada a pulga forma cerca de 200 a 300 ovos, que quando maduros são expelidos para o meio ambiente, principalmente em locais úmidos  como chiqueiros, galinheiros, etc. Nesses locais eles vão se desenvolver e formar os insetos adultos. Adultas, as fêmeas fertilizam e procuram um hospedeiro para penetrarem sob a pele dele. Esse hospedeiro pode ser um ser humano ou outro animal, em geral, os que vivem nas redondezas. Assim completam o ciclo e multiplicam-se sem parar.  Quando elas penetram na pele, aparecem como se fosse uma micromancha escura que causa uma coceira intensa. Se não for retirada, ela vai crescendo rapidamente e forma a famosa  "batatinha" que passa a incomodar muito o seu hospedeiro. Quanto antes for extraída, melhor.

   O grande problema causado pelo bicho de pé, não é a coceira e a "batatinha" que causa um aspecto horrível com o crescimento,  mas   o risco de abrir caminho para   grandes  infecções  bacterianas  ou viróticas. O tétano, após o ataque do bicho de pé,  já provocou a morte de muitas pessoas como infecção secundária! Outra infecção grave que causou amputação de muitos  dedos e às vezes, partes de pés foi a gangrena.

  Hoje, o número de pacientes atacados pelo bicho de pé, diminuiu muito. As fazendas praticamente já não têm bicho de pé, porque já não se criam animais como se criava antigamente.  É sabido que bicho de pé gosta de pé de gente ou outro "bicho", ele não gosta de "pé de cana"! As fazendas atualmente não criam animais, criam cana!  Nos locais dos currais, dos chiqueiros e até das casas, hoje, encontra-se canavial.

  Aquela coceirinha que os antigos chamavam de "gostosa" quando a Pulga penetrans estava querendo arrumar seu ninho, praticamente não existe mais. O bichinho praticamente desapareceu!  "As coceiras e as feridas" de hoje são piores e mais destruidoras e os "bichos" que as provocam são muito maiores e normalmente não vivem na roça, vivem nas grandes cidades! 

Compartilhar: