A caminhada pela vida...

A caminhada pela vida...

 

    A estrada era longa e ele a percorria com alegria e muito trabalho. Ora dava um passo maior, ora menor, mas não parava. O suor lavava-lhe o rosto quente aquecido pelo trabalho e pelas emoções. A estrada tinha algumas curvas, alguns buracos, algumas pedras e algumas pontes perigosas,  e parecia não ter fim. De quando em vez, olhava para trás para ver o caminho percorrido, embora a meta fosse continuar andando. Aonde iria parar, não sabia, mas sabia que deveria continuar caminhando, apesar de estar um pouco cansado. A cada passo andado, era um troféu que recebia de sua pequena vitória! Os maiores troféus, entretanto, estavam em  sua casa: a esposa, os dois gêmeos e a caçula Beatriz, a bonequinha viva que Deus o havia presenteado. Que lindos troféus! Como ficava contente quando via os três brincando nas manhãs de domingo, quando todos estavam de folga! Os gêmeos tinham oito anos e, Beatriz, cinco.  Ela era a rainha de um lindo trono e, os dois, os guardiões que a vigiavam com muito esmero e carinho! A esposa era a rainha mãe, tratada como tal por toda a família! O seu castelo continuava com o  grande jardim com suas árvores floridas!

    A vida continuou e, ele continuou a caminhada!  Certo dia, os gêmeos partiram para a cidade grande à procura de trabalho. Duas das grandes árvores floridas do seu jardim voaram  com o vento. Uma tristeza tentou abatê-lo, mas ele seguiu em frente.  Três anos depois Beatriz se casou e foi morar em outra cidade. Mais uma grande árvore florida foi arrancada de seu jardim. Desta vez, quase capitulou, mas a estrada, ainda estava aberta à sua frente! Ficou com a esposa como no dia em que se casaram.  Ele, que durante muitos anos, apenas se preocupava com o ganho da vida, o sustento da casa e o crescimento dos filhos, não prestara atenção naquela que o acompanhava em silêncio, ajudando-o na sua longa caminhada. Desta vez, olhou para ela! Ela estava olhando para ele! Correram um em direção ao outro e se abraçaram! Há quanto tempo não faziam isso! Ele fitou-a com amor e carinho! Uma ruga aqui, outra ali, umas manchas de envelhecimento sobre as mãos e a face, mas ela continuava linda como quando a conheceu! Aquele olhar terno, aquele abraço aconchegante, aquele sorriso que somente ela sabia dar! Ah! Que felicidade! Não houve como segurar o pranto! Mas o pranto tornou-se riso e o riso tornou-se pranto por inúmeras vezes! De mãos dadas foram até à porta, como se o instinto lhes quisesse mostrar a grande caminhada que ainda teriam de percorrer! Imaginaram-se avôs, imaginaram-se bisavôs! Imaginaram-se dobrando as dobras do infinito! Tudo isto aconteceu porque, um ao lado do outro, ainda tinham vontade de viver, vontade de amar  e caminhar pela estrada da vida que nunca pensaram ter fim...

 

 

 

 

 

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