Deus

Deus

Desde a nossa infância somos ensinados a acreditar em um Deus maravilhoso que vive no céu e está à nossa espera para que possamos viver felizes para sempre durante a eternidade! O catecismo, a igreja, principalmente a Igreja Católica Apostólica Romana sob a qual nasceu toda a minha família, desde os ancestrais, que viveram na Europa e que trouxeram a tradição de obedecer ao tão grande Deus que domina as estrelas, as nuvens, os trovões e a vida em todo o mundo, dentro e fora deste planeta Terra no qual temos tanto orgulho de viver foram os grandes agentes dessa obediência constante que nunca nos deixou dúvida de que esse Ser Supremo, que nunca vimos, mas que nunca deixamos da acreditar, nos vigia noite e dia sem parar!  A evolução da Igreja com suas interpretações modernas, fez com que passássemos a acreditar que Deus não está somente no céu, mas que vive ao nosso lado, entre todos nós.  Assim prega a igreja e assim nós acreditamos!  Ao longo dos anos, nunca deixamos de acreditar nessas prerrogativas da Igreja.

Não quero fazer aqui nenhuma apologia a favor ou contra a Igreja, quero apenas passar aos leitores a realidade da vida que durante estes dias de feriado  que passei no campo me chamaram a  atenção.  Longe de igrejas, de sacerdotes, de orações tradicionais as quais frequentemente uso em minhas horas de comunicação com Deus, andando pelo campo, pelas lavouras e pelas matas, vi fatos interessantíssimos e maravilhosos que me puseram frente a frente, lado a lado com criações reais que me encantaram a alma e puseram o meu raciocínio para trabalhar e tentar descobrir de onde viriam tão inéditos acontecimentos! Vi sementes estourando a terra mostrando folhinhas frágeis que tive a oportunidade de pegar em minhas mãos saindo de uma profundidade de quatro, cinco centímetros; vi o voo de um grande tucano passando de uma árvore para outra com tanta facilidade que cheguei a duvidar da tal façanha, que para mim era quase impossível que ele a fizesse, mas, que para ele foi como dar um pequeno pulo de uma árvore para outra; dentro da mata vi o nascimento de um rio, uma pequena mina que borbulhava, saindo das entranhas da terra como um parto interminável que há séculos começou e que nunca acabou!  Vi ninhos de passarinhos repletos de ovos onde alguns estouravam a casca para mostrar a vida das belas aves ansiosas para respirar o ar puro da mata e darem os seus gritos de independência! Vi formigas carregando fragmentos de folhas que tinham o peso três a quatro vezes maiores do que o peso dela! Vi a majestade das grandes árvores carregadas de frutas silvestres como se fosse o Paraíso! A sombra dentro da mata transformava o sol abrasador do campo aberto em temperatura ambiente de cerca de vinte e poucos graus, enquanto lá fora a temperatura reinava em torno de trinta! Parei durante alguns minutos para observar um grosso cipó que nascera ao lado de um grande pé de jatobá! Não pude ver o seu final, o seu ápice, a sua ponta, mas vi como o jatobá o protegia, dando-lhe a coluna vertebral que ele não tinha e recebendo em troca um mar de flores que começavam perto do chão e engalanavam a grande árvore até a cúpula! Que linda simbiose: enquanto um ajudava a manter a formosura do primeiro, o segundo devolvia-lhe com gratidão engalanando o grande tronco cinza, agora repleto de flores cor de rosa, quase vermelhas! Quem teria posto aquele cipó tão lindo ao pé da árvore jatobá? Quem teria posto aquela mina de águas cristalinas que borbulhava vida em abundância no meio da mata?  Quem teria dado tanta força para a formiga e o voo quase impossível do tucano? Quem mandara a casca dos ovos se racharem e se abrirem para dar liberdade para as novas vidas que saltavam para fora da prisão?          

Saí da mata e me dirigi para a casa da fazenda! Pombas do ar, juritis, bem te vis, sabiás, voavam e cantavam ao meu redor! Tudo aquilo seria para mim? Seria?

Somente à noite, ao deitar-me, pude entender o que acontecera durante  aquele dia! Eu não estava sozinho!

                                               Nelson Jacintho

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