Ele usava o tempo...

Ele usava o tempo...

Ele vivia sozinho porque queria viver sozinho!

No campo, a vida era sossegada e o tempo não tinha tempo para passar!

Ele não tinha relógio, não tinha ambição, não tinha sonhos dourados em seu coração. Vivia sozinho porque queria viver sozinho. Usava o tempo da maneira que queria usar!

Às vezes, nem se lembrava dele porque estava só.  Quando se está só, o tempo não passa, fica. Fica dormindo como fica o cãozinho que nos adora e dorme o tempo todo para ficar conosco desde que bem tratado. Ele tratava bem o tempo. Por isso o tempo era-lhe dócil e bondoso. Todas as manhãs beijava-lhe as mãos pelo sopro do vento.

Ele gostava de brincar com o tempo e de quando em vez, pegava uma folha de papel e escrevia  palavra tempo com letras bonitas e uma longe da outra. Dizia ao seu ego que o tempo deveria ser bonito e bem comprido. As cinco letras do tempo deveriam ser espaçadas como deveria ser espaçado o verdadeiro tempo. Para cada letra inventava uma história e para isso procurava a origem das letras e da própria palavra tempo. As histórias inventadas perdiam-se no próprio tempo e algumas rabiscavam assuntos da eternidade, causando assim certo ciúme ao tempo. Falavam sobre a escrita muitos séculos antes de Gutenberg ter inventado a imprensa. Viajava na história de cada letra e muitas vezes ciava uma música para cada uma delas. Tocava-as na velha sanfona que havia herdado do pai e no vai e vem do fole ia alimentava o seu rico pensamento.

   Ele vivia sozinho, mas não sentia falta de alguém! Ele sabia conservar a amizade que conquistara: a amizade do tempo!

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