Ele viu a tarde esvaecer...

Ele viu a tarde esvaecer...

Ele viu a tarde esvaecer em sua vida...

Aquele sol do meio dia que lhe encrespava os músculos, ingurgitava as veias, agitava-lhe a alma e o atirava à luta do dia a dia, ele o viu caminhando para o ocidente...

A pele lisa e macia das mãos tornara-se áspera e rugosa com pintas escuras tais como as nuvens da tarde em época de chuva...

Aquelas pernas viris e ávidas por exercícios cada vez mais possantes, haviam passado a procurar almofadas aveludadas e macias, tentando lhe dizer que preferiam mais repouso do que exercícios...

O coração repleto de sonhos e de futuras conquistas a serem feitas, quente como uma pedra exposta ao sol do meio dia, fora se tornando mais morno e acomodado...

O pensamento orgulhoso e cheio de si, preso ao seu egocentrismo incorrigível, fora soltando as amarras e passara a dar oportunidade para o aparecimento de outros mais amenos...

Os sonhos que ocupavam todo o espaço de sua vida, realizados ou não, foram perdendo a importância que sempre tiveram e passaram a ser menos fustigantes...

As recordações foram, passo a passo ocupando os espaços dos sonhos, que antes não davam espaço para nada...

O sol ainda permanecia nas fímbrias das nuvens que tentavam enfeitar o ocaso, pintando-as de cor de rosa, mas já se despedia delas, deixando-as com saudade...

O velho olhou para o relógio, para o seu corpo e para o sol que se escondia... Eram seis horas da tarde, o corpo estava cansado, o sino tocava na igreja a hora da Ave Maria enquanto o velho encantado, do sol se despedia...

 

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