A gorda e a magra

A gorda e a magra

 Elas eram irmãs!  Lúcia era  dois anos mais velha do que Cristina! Apesar de irmãs, uma tinha o gênio completamente diferente da outra. Lúcia começou a andar aos  dois anos de idade, enquanto Cristina, aos dez meses  começou  a correr pela casa. Cristina era um verdadeiro furacão, como costumava dizer a mãe. Nada parava no lugar. Os pequenos bibelôs das salas tiveram de ser retirados. A escada de três degraus teve de ser escondida depois que ela caiu e teve fratura no punho. Ferramentas e talheres tinham que ficar escondidas e com chaves. O furacão aumentava a sua potência à medida que crescia! As pernas magrelas corriam sem parar, os olhos meio saltados parece que queriam ver tudo antes da hora e das outras crianças. Nenhuma criança da vizinhança conseguia acompanhá-la nas corridas de rua e de pique de esconder. Não parava nem um minuto dentro e fora de casa! Era incansável!  Dormia pouco, estava sempre agitada, antes de acabar uma tarefa já queria passar para a segunda. Na escola já fora causadora de muitos transtornos. Vivia empurrando e dando tapas nas coleguinhas! Os pais já haviam sido chamados várias vezes à escola por causa das traquinagens que ela fazia!  Conselhos dos professores e da diretora, não funcionavam. Os pequenos castigos  domésticos como ficar mais dez minutos sentada à mesa após o almoço e o jantar, nada lhe valiam. Ficar lendo um livro de histórias era um sacrifício! Relaxar em uma banheira de água quente, nem pensar!

    Enquanto Cristina era o furacão da casa e da escola, Lúcia era a calmaria em pessoa. Era muito tranquila; para ela tudo estava bom, não tinha pressa para nada; pagava para não sair de casa e ir brincar na rua com a meninada ou mesmo no quintal com o cachorro Duque. Gostava de ficar sentada diante da televisão, ou fazendo seus joguinhos no tablet que havia ganhado no dia de seu aniversário, comendo bolachas, biscoitos ou pipocas. Tinha horror ao sair de casa para brincar. Nunca fora atida às brincadeiras das crianças da vizinhança! Ficar esborrachada no sofá da casa lendo livros de histórias, para ela era um deleite! Comia demoradamente! Era a primeira a sentar à mesa e a última que saía! Não se importava de ficar conversando com os pais depois das refeições. Para ela a vida poderia se resumir dentro de casa!

   Preocupados com a velocidade de Cristina os pais foram deixando de lado a morosidade de Lúcia. Lúcia ficou praticamente abandonada pelos pais, fazendo tudo que gostava: comer, ficar sentada e jogar no seu  inseparável “aparelhinho”, ler histórias.  

   Passou algum tempo até que a mãe, conversando com uma vizinha, ficou sabendo que Lúcia e Cristina poderiam estar doentes! O aviso despertou a preocupação da mãe, apesar dela achar que as duas meninas tinham apenas gênios diferentes.

    Foram ao médico! Este com uma carga horária de mais de 30 anos de experiência, após ouvir a longa descrição da mãe, matou a charada imediatamente. Vamos fazer alguns exames, mas Cristina deve estar com Hipertireoidismo e  Lúcia, com hipotireoidismo. Uma tem hormônio demais e a outra, hormônio de menos, nas tireóides. Acho que os exames vão comprovar o que estou dizendo!

   Fizeram os exames e voltaram ao médico!

   - Eu não disse? Olhem aqui: Cristina tem excesso de hormônio da tireóide e Lúcia tem falta de hormônios da Tireóide!  Cada uma vai tomar um remédio diferente. Vamos ter de diminuir o hormônio da Cristina e aumentar o da Lúcia!

   - Não vai dar para fundir as duas e depois dividi-las em duas iguais? Disse o pai, brincando com o médico!

   O médico riu da piada do pai, fez a receita para cada uma delas e marcou retorno para  seis meses. 

    Depois dos seis meses, ao retorno, viu que a medicação estava atuando bem em cada uma delas.  Pediu  novos exames.

   O pai, de novo veio com uma nova piada: “ doutor, estou sentindo muita falta da minha  Cristina elétrica e da minha Lúcia paradinha! O senhor não daria um jeito de voltar somente um pouquinho o que elas eram antes do tratamento?

   O médico sorriu!

   - Saudade é coisa do passado, meu amigo! Olhe para frente  e veja o  que elas poderão ser, assim, belas e com saúde!

   Os novos exames estavam dentro da normalidade.

  - Vão com Deus! A medicina, de vez em quando consegue algum benefício, disse o médico sorrindo e abraçando a todos!

Compartilhar: