A ingenuidade do povo brasileiro

A ingenuidade do povo brasileiro

 

    Ele trabalhava na roça desde que nascera! Estudara na escola rural até aos 12 anos, aprendera a ler e a escrever para o gasto, como costumava dizer, pois lia muito pouco e não escrevia quase nada. Certo dia,  recebeu a visita de um primo da cidade  com a mesma idade. Eles estavam com cerca de 25 anos.

  - Vamos para a cidade grande, primo! Você fica trabalhando de sol a sol, sujeito a ter  câncer de pele! Ganha apenas para comer, não lhe sobra quase nada!

  - Tenho algumas economias!

  - São economias que nunca vão tirá-lo do cabo da enxada! Não seja bobo! Vá comigo para a cidade! Vou ensinar você a ganhar dinheiro fácil! Leve a pior roupa que você tiver! Não a lave! Leve-a suja.

  - Vou trabalhar na cidade com a roupa rasgada e suja?

  - Isso mesmo! Confie em mim!

  Joaquim chegou à cidade grande com o primo que morava na periferia! Casa modesta por fora, mas ricamente montada por dentro. No quintal algumas calças e camisas surradas e rasgadas.  Uma pequena bacia com um pouco de terra ao lado de uma torneira, ao lado de um belo jardim.

  - Moro aqui neste pedacinho de céu! Ninguém sabe que a minha casa é confortável, porque todos do bairro acham que sou pobre como eles. Tenho esta casa e mais duas alugadas em outros bairros. Casas em bairros periféricos são bem acessíveis para serem compradas. Quando a corda aperta o pescoço, o dono a vende por qualquer dinheiro. Você vai ficar morando comigo até comprar a primeira casa.

  No outro dia, após lauto café, o primo diz a Joaquim para vestir a roupa rasgada e suja, ir ao quintal e sujar o rosto com terra e água junto à torneira do quintal.

  - Que vamos fazer?

  - Vamos para o centro da cidade, pedir moedas! Cada um ficará em uma esquina da cidade. Pela manhã vamos pedir dinheiro para tomar café, fazendo cara de fome. Depois das 11 horas, passaremos a pedir dinheiro para poder almoçar e depois das 6 da tarde, passar a pedir dinheiro para poder jantar. Às 22 horas pegaremos o carro que vai ficar longe do centro por cerca de dez quarteirões. Um dia iremos com chapéu velho, outros dias, sem chapéu, com bota rasgada, outro com os pés imundos calçados com alpargatas surradas e assim por diante.

  No primeiro dia Joaquim conseguiu arrecadar cem reais enquanto o primo arrecadou trezentos.

  - Você ainda não se acostumou a fazer a cara de pedinte que  comove as pessoas! Procure pedir mais para as mulheres, principalmente se forem velhas e ou acompanhadas de crianças. Velhos e crianças têm dó de pedintes!

  Depois de trinta dias Joaquim já estava competindo com o primo no ganho do dinheiro. Com dois  anos de “trabalho”  comprou um carro usado  e uma casa em outro bairro. O terreno era grande, ele  fez o muro bem alto e cercou-se de algumas mordomias. Com cinco anos já era dono de quatro pequenas casas de aluguel! 

    Veio a crise, pessoas começaram a perder emprego! Ele não se abalou: não tinha patrão, não tinha emprego! A féria diária diminuiu um pouco, mas continuava firme!

  Certo dia, vestido de maltrapilho, antes de sair para o “trabalho”, olhou-se no espelho! Começou a rir! Estava muito bem de vida! Valia a pena manter a sua vida de mendigo rico! Lembrou-se de alguns políticos que haviam assaltado o povo e estavam na cadeia! Riu-se da má sorte deles. Ele estava tranquilo: nunca roubara nada de ninguém, apenas usava a esperteza, aproveitando-se da ingenuidade do povo brasileiro! Riu mais uma vez e disse para si mesmo: “que pena que os políticos não ficaram  apenas com  a segunda parte!

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