A noite...

A noite...

 

A noite parece estacionada e fria...  Dorme tranquilamente quando riscos de rápidos relâmpagos, como gizes vermelhos, riscam o seu quadro negro sem moldura, lá no fim do mundo... A brisa é tão suave que parece pedir licença entre as folhas das árvores para poder passar... Nada se mexe... A lua voa sem barulho e as estrelas caminham sem piscar... Tudo é silêncio... O risco do relâmpago está tão longe que o trovão afoga-se no mar, antes de ali chegar... A noite dorme, a lua dorme, as estrelas dormem... Os pássaros dormem, a mata dorme, a cascata dorme... Como é grande o silêncio que nada deixa se manifestar... De repente, um pequeno facho de luz surge na imensidão do espaço e vem caminhando deixando seu rastro, sem fazer barulho, sem fazer fumaça... Uma janela aberta onde alguém está debruçado parece ser o destino do pequeno facho de luz...  Quem seria ele? Por que estaria debruçado na janela em tamanha escuridão?  Por que o facho de luz caminhava na sua direção? A noite continua silente e aquele alguém continua debruçado na janela... respira fundo, mas sua respiração não provoca barulho! Está quedo! Estaria dormindo profundamente? Estaria sonhando sonhos da infância?  O facho chega e para ao lado desse alguém que ninguém sabia quem era!  O facho ilumina a fronte dele! Ele parece transpirar. O silêncio continua profundo como sempre esteve! O alguém abre os olhos e afaga com as duas mãos o facho luminoso! Leva-o até aos lábios e o beija! Não queima as mãos, não queima os lábios! Coloca o facho de luz ao seu lado, retira do bolso um lápis e um  papel e começa a escrever uma poesia! Ele era poeta e ninguém sabia!  Quem poderia saber que aquela noite fora feita apenas para ele?

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