O fim do mundo

O fim do mundo

Quando eu era criança ouvia os idosos falarem que o mundo  iria acabar. Depois, comecei a ouvir que o fim do mundo estava próximo. Criança de 6 para 7 anos fiquei apavorado e inconformado. Como o mundo estava próximo do fim se eu não tinha ainda nem 7 anos? Eu acabara de entrar na escola, no meu velho Grupo Escolar de Vila Pereira, em Barretos, estava louco para aprender a ler e a escrever e depois estudar medicina e o mundo, sem mais nem menos iria acabar? A professora de catecismo estava falando que esse mundo maravilhoso, com as matas, os animais, os oceanos, o sol, a lua, as estrelas tinham sido criadas por Deus e nós seres humanos, também fomos criados por Ele. Eu não tinha dúvida de que o mundo fora criado por Ele, mas sentia-me muito frustrado ao saber que Ele iria acabar com o mundo. Seria uma maldade muito grande daquele Deus em que eu acreditei desde que nasci. Por que criar e destruir? Isto não cabia na minha cabecinha de criança!  Como as criancinhas que estavam nascendo não iriam conhecer o mundo se ele acabasse!

  Eu nasci e passei a minha infância na fazenda. Era admirador das belezas da natureza e das criadas pelo homem! Como aquelas matas maravilhosas, os riachos de água cristalina, as montanhas verdejantes, os lindos pássaros da mata, as árvores centenárias, o lindo nascer do sol, o maravilhoso pôr do sol, as noites enluaradas e estreladas, o arco íris, o rio Amazonas, o São Francisco, o Paraná! Como tudo isso que deveria ter dado grande trabalho ao Criador, seria destruído? Para onde Deus iria levar tanto lixo? E meu lindo Grupo Escolar?  Iria acabar?  Onde crianças como eu iriam estudar? Eu ficava tão indignado que me esquecia que crianças também não existiriam! Por que o povo dizia que: “de mil passarás, mas a dois mil não chegarás”?  Quem teria inventado essa fatídica história? Certo dia alguém me disse que foi um tal de Nostradamus, um adivinho que fazia previsões e que  havia vivido há muitos anos!

   Nessa época eu não sabia quem era Nostradamus e se ele existiu de fato! Para mim o que existia era o meu dia a dia, as brincadeiras que fazia com a meninada,  a vontade de aprender a ler e a escrever e depois estudar para ser médico! Como eu queria ser médico! Daria tempo?  Que maluquice era aquela de acabar com o mundo, se eu tinha tanta coisa a fazer na minha vida?

    O tempo foi passando! O sol nascia bonito todos os dias, a brisa fresca da manhã entrava pela janela  entreaberta  e o bule de café coado no coador de pano fumegava sobre a  mesa! Eu me via feliz diante do espelho, mas aquela história de fim de mundo continuava me preocupando. Fui para a escola, comecei a escrever e a ler! Que felicidade!  As brincadeiras durante a hora do recreio, dava-me vontade e entusiasmo para viver!

   Certo dia, durante o verão de dezembro, fiquei mais preocupado! Um vendaval caiu sobre a  nossa pequena chácara. As telhas dos barracões e da casas começaram a voar pelo espaço! O gado  assustado arrebentou a cerca do curral e saiu correndo para o pasto! Os coriscos cortavam o céu e os trovões pareciam querer derrubar todas as nuvens. Tive certeza de que  seria naquela tarde  o fim do mundo.  O vendaval passou e deixou intensa destruição! Fiquei com a impressão de que mais dois ou três semelhantes, acabariam com o mundo! Outros vendavais vieram  durante a minha vida, físicos e psíquicos, mas o mundo continuou vivo!

  A vida foi passando! Eu, adulto, já não acreditava que o mundo iria acabar! Chegou o ano 2000 e nada aconteceu. O povo sofrido parecia feliz porque o mundo continuava! Outro maluco, entretanto, resolveu complicar a vida das pessoas e colocou nos jornais, nas rádios, televisões e todos os meios de comunicação que o mundo realmente iria acabar. Desta vez colocou data: 1º de janeiro de 2012.  Velhinhas apavoradas,  sofriam em desespero! O dia 1º de janeiro  de 2012 chegou e o mundo não acabou! O tempo continuou. As notícias da devastação das matas, da contaminação da água,  do aumento  dos terremotos, das enchentes, dos tsunamis, a matança ocasionada pelos raios, o excesso de gás carbônico expelido no ar pelos carros, caminhões e outras máquinas e tantos outros desastres que estão ocorrendo vão levar o homem à destruição do mundo! Olhem que eu nem falei na destruição moral que   o mundo está sofrendo, principalmente no Brasil. Acho que desta vez não há data para o desaparecimento do mundo, mas é bom a gente ficar de olho aberto!

 

 

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