O menino das pernas tortas
Zezinho era um menino que nasceu na periferia de uma pequena cidade do interior. Não frequentou creche nem escola infantil. A faina diária da mãe empregada doméstica não lhe permitiu muitos afagos durante a primeira infância. Vivia na rua brincando o dia inteiro com a meninada de sua idade. Vivia no país do terceiro mundo chamado Brasil, país que ninguém sabia de nada e não era responsável por nada. A pobreza e a ignorância dos pais comungavam com a vida miserável da criança. Aos sete, oito anos de idade os coleguinhas começaram a chamá-lo de Zezinho das pernas tortas: ele tinha grave defeito dos membros inferiores em que os joelhos foram se afastando gradativamente um do outro. Era o típico geno varos, deformidade muito conhecida dos médicos ortopedistas. Cada vez mais os joelhos de Zezinho foram se afastando à medida que ele crescia. Isto começou a atrapalhá-lo nas corridas e outras brincadeiras de subir e descer. Zezinho tornou-se um menino triste e isolado das brincadeiras da turma. Uma das vizinhas percebeu a melancolia do menino e insistiu para que a mãe o levasse ao médico do Postinho de Saúde do bairro. O médico do Posto, imediatamente o enviou para o ortopedista. Esse imediatamente demorou três meses, mas valeu a pena. O médico ortopedista era carinhoso e recebeu mãe e filho com muita afeição. Ao entrar na sala do médico ele logo disse:
- Que belo caso de geno varos. Há tempo que não vejo um tão acentuado!
- Geno o quê? Disse a mãe!
- Geno varos. É o nome dessa deformidade dos joelhos! É uma doença genética!
- Genética?
- Sim! Ele a herdou de algum parente! Pai, mãe, avô, avó...
- O senhor tem razão! O pai dele tem as pernas iguais às do Zezinho. A turma lá fábrica o apelidaram de Chico Zambo! Nem ele nem eu sabíamos o que significava isso. Foi uma vizinha minha que trabalha na escola que perguntou para a professora o que significava zambo!
- Dr. Rafael passou a mão na cabeça de Zezinho e disse:
- Vou precisar fazer uma cirurgia nesses joelhos! Vou colocar pequenos grampos metálicos para fazer parar o crescimento das cartilagens de crescimento do lado que as pernas estão maiores! Como assim?
- A cartilagem é a parte do osso que o faz crescer. No caso do Zezinho as cartilagens do lado externo dos ossos das coxas e pernas estão crescendo mais do que as do lado interno! É por isso que os joelhos vão deformando!
- O senhor vai grampear os joelhos dele?
- Não vou grampear os joelhos dele! Os grampos vão ficar fora dos joelhos! As cartilagens que vou fixar não têm nada a ver com o funcionamento dos joelhos!
- O senhor já fez isso alguma vez?
- Dezenas de vezes...
- Deu certo?
- Sim! Deu tudo certo! Grampeando a cartilagem de um lado o joelho vai crescendo do outro lado até corrigir a deformidade!
- Esses grampos de metal vão ficar nos joelhos dele?
- Não senhora! Vão ficar até que se faça a correção, cerca de um ano e meio, dois anos, um pouco mais, um pouco menos! Depois faço uma pequena cirurgia para retirar os grampos! Vou pedir os exames pré-operatórios. Vamos marcar o retorno para daqui a trinta dias para não perdermos tempo.
Zezinho fez os exames e foi operado pelo Dr. Rafael Tudo correu bem!
Dr Rafael , no dia da alta disse a Zezinho:
- Não deixe de estudar, meu garoto, faça a sua parte!
Mãe e filho saíram contentes do hospital! Zezinho saiu encantado com o médico e nunca esqueceu o conselho de estudar!
As pernas dele foram se acertando e cerca de dois anos depois, estavam completamente retas.
Retirados os grampos mãe e filho voltaram felizes para casa.
Alguns anos depois, quando Zezinho já estava trabalhando e estudando, a mãe foi ao consultório do Dr. Rafael para levar-lhe o convite de casamento de Zezinho.
- Ficaríamos felizes se o senhor pudesse comparecer! O senhor foi o responsável por tudo o que aconteceu com o meu filho!
- Não senhora! A senhora foi a responsável por trazê-lo aqui! Eu não sabia da existência dele e nem da doença! A vitória foi sua! Estarei no casamento para ver se ele vai saber subir a escada da igreja com as pernas retas...