O sol, a lua e o homem

O sol, a lua e o homem

 

                      O sol é o astro rei; forte, masculino, desafiador, exigente e bravo! Como Apolo do alto do Olimpo, gosta de estimular a luta, a competição, os desafios! Gosta de ver a correria dos homens nas cidades e nas estradas, cada vez correndo mais depressa, sem tempo para a família, o lazer, o descanso! O sol é o verdugo do homem! Queima-lhe a pele, provoca-lhe o câncer, derrete-o em suor, seca suas entranhas, contamina-lhe a alma com maus pensamentos. Faz-lhe o sangue ferver, estimula-o à briga e à matança nas ruas e nas estradas com seus carros loucos e envenenados, como se estivesse brincando com crianças maluquinhas e sem juízo! Ele derrete as geleiras dos polos, aumenta o nível do mar que invade locais baixos e desprotegidos!

                    A lua é a rainha do universo; frágil, feminina, submissa e compreensiva! Como a rainha Isabel, eterna padroeira de Portugal que a tudo amou  aqui na terra, independente das circunstâncias, a lua é a rainha do céu! É submissa, não gosta da luz do dia, prefere viajar à noite junto às estrelas, ao silêncio noturno, ao orvalho da madrugada! A lua prefere ouvir o suave burburinho das águas dos riachos que correm sobre as pedras, o barulho buliçoso das águas das cascatas que refletem seus raios durante a madrugada, da suave brisa que passa pelas folhas das matas! Gosta de brincar de esconde-esconde com os vaga-lumes que se divertem após os chuvisqueiros, escondendo-se por detrás de nuvens grávidas de chuva!  Ela não gosta dos barulhentos homens do dia que tudo fazem para estimular a competição! Ela gosta do silêncio, da quietude, das visitas aos becos da terra, onde dormem os animais ferozes! Como ela gosta de lhes acariciar o pelo enquanto estão dormindo!   Ela gosta de trocar de roupa todas as semanas, ora de saia comprida, ora de minissaia, ora de saia normal! Como ela vibra com essas trocas de roupa! Como ela vibra com o crescimento das marés! Como ela vibra ao iluminar a testa do poeta debruçado na janela durante a madrugada à procura de seu novo verso!

                   O sol, entretanto não é apenas o verdugo dos homens, aquele machista poderoso e implacável que a tudo quer destruir! É ele que da o verde às plantas colorindo-as com a clorofila! Ele provoca a fotossíntese que da a alimentação às plantas! Provoca a evaporação da água dos lagos, dos rios e dos mares para a formação de nuvens carregadas de água que vão provocar as chuvas, tão necessárias ao crescimento das plantas, do enchimento das represas de usinas de energia que vão nos dar a eletricidade tão necessária para a sobrevivência do mundo! São as chuvas que enchem os mananciais das grandes cidades que lhes fornecem a água necessária para a manutenção da vida! É o sol que enxuga as estradas barrentas da Região Amazônica, onde centenas de caminhões transitam diuturnamente!

                    Vemos que o sol não é apenas o carrasco!  Ele é o responsável pela vida! Sem ele não haveria vida!

                     Por sua vez, a lua, a namoradinha dos poetas da madrugada, não é somente a romântica acalentadora da noite!  Ela age nas marés que muitas vezes invadem as praias e levam de volta o lixo que os despreocupados e mal educados deixaram nas areias. Para os crédulos e para os escritores  de histórias infantis, ela solta os lobisomens à meia noite, apavora os caminhantes da estrada nas encruzilhadas, quando reflete sua luz sobre as velhas cruzes abandonadas, meio apodrecidas e cheias de fungos provocando imaginações fantasmagóricas e horripilantes! É ela que permite a formação de grande quantidade de orvalho nas madrugadas do outono e do inverno e da oportunidade às grandes geadas que tudo queimam!

                 Assim é o sol, assim é a lua, assim é a vida do homem que ora condena, ora aplaude a força incontida da natureza!

                                              

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