Observação da vida

Observação da vida

 

   A vida deveria ser  observada também, pelo que, normalmente,  não observamos, não  vimos,  não fizemos e até, nem pensamos! Pouca importância damos ao fato do café estar na mesa,  pela  manhã, após  levantarmos, fazermos a barba, pentearmos os cabelos e trocarmos de roupa! Lá está ele com o aroma da felicidade com o pãozinho e a manteiga ao lado! Poucas vezes observamos que durante o dia olhamos muitas vezes para o relógio para nos localizarmos no tempo e no espaço!  Poucas vezes tomamos consciência de que os filhos chegam da escola diariamente às 13 horas! Na verdade, não olhamos para o relógio nesse horário! Frequentemente  esquecemo-nos de dar um beijo na face da esposa quando saímos de manhã para o trabalho e na hora em que dele voltamos à entrada da noite! A rotina impede-nos de apreciar, quando estamos de folga em casa, aos domingos, como os raios do sol  entram pela sacada do nosso apartamento, como as andorinhas voam em torno do nosso prédio, como é linda a orquestra que se forma  na copa das árvores pela passarada! Poucas vezes saímos à janela para ver o tremeluzir das estrelas, o brilho da lua cheia, os desenhos  dos relâmpagos  que cortam o universo  nas noites de chuva de verão!

     Nunca pensamos  o que aconteceria se  um dia ou todos os dias pelas manhãs o café não estivesse na mesa, se não tivéssemos relógio, se os filhos não voltassem da escola às 13 horas, se a esposa não estivesse em casa à nossa saída e à nossa chegada. É verdade que muitas esposas saem mais cedo e chegam mais tarde do trabalho! Isso, entretanto, não deveria causar a ausência do beijo!  Nunca pensamos no tremeluzir das estrelas, na lua cheia,  nas noites de  chuva de verão! Somos assim como adultos! Somos assim como crianças. Sempre nos esquecemos do beijo na mãe  quando a bola já está rolando na calçada nos pés de outros moleques. Saímos em desespero! A bola é mais importante que a mãe! À noite  pensamos  na bicicleta que o Papai Noel prometeu e o importante da família é o Papai Noel, acima de nosso pai e nossa mãe!   Pensamos na perseguição amorosa àquela colega de escola que mora vizinha à nossa casa! Vivemos uma vida de esperança e de ilusão! Nunca pensamos se nada disso existisse! Quando somos crianças o mundo é nosso! Temos tudo!  Não há a possibilidade das coisas não existirem!  Se não existirem de fato, existem de pensamento, nós  as criamos! O pensamento é realidade na criança! O pensamento e a ilusão existem porque existem na realidade delas!

   Quando somos idosos começamos a pensar de maneira diferente! A maioria não sai para o trabalho. Temos  mais tempo para ver o tremeluzir das estrelas, o brilho da lua cheia, os relâmpagos, a bola que corre na calçada sem precisar persegui-la! A antiga   garota vizinha ficou  ao nosso lado e a vida escorreu, sem percebermos,  pelos nossos dedos como grãos de areia! É nessa hora que começamos a  entender que a vida não deveria ser pensada sobre  o que fizemos, mas sobre  o que deixamos de fazer, de ver, de pensar! Infelizmente somente nessa idade passamos a ver a vida dessa maneira! A vida, entretanto,  já está curta para voltar e começar  de novo...

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