Rolezinhos

Nelson Jacintho

23 Jan 2014 11:26

De tanto ler e ouvir falar sobre rolezinhos, e sem saber o que realmente significam, fui diretamente ao Aurélio consultar o significado da palavra. Essa palavra não está grafada no famoso dicionário. Achei rolé e role. Rolé, substantivo masculino é usado na locução “dar um rolé”, isto é, dar uma volta, um giro. Rolê significa enrolado como por exemplo no caso do bife rolê. Penso que foi o rolé que deu origem ao “rolezinho”.

Deixando o Aurélio de lado passei a pensar no jovem brasileiro! O que estaria acontecendo com ele? Será que se cansou dos joguinhos de seus Ipads, Ipodes, tablets e outras maquinazinhas empolgantes e arrebatadoras que lhes consumiam quase cem por cento de suas horas de vigília, vício terrível e difícil de ser controlado, para se dedicar a outras formas de lazer! ?

Como observador do mundo que nos rodeia eu estava chegando à conclusão de que nada mais estaria interessando à juventude brasileira, além dos joguinhos intermináveis nas pequenas máquinas, e o intercâmbio social por intermédio de mensagens que não acabavam nunca! Era e ainda é comum vermos jovens grudados nessas pequenas máquinas nos carros, enquanto seus pais dirigem e passeiam, nos Shoppings Centers enquanto suas mães fazem compras, nas lanchonetes enquanto esperam o lanche! Ainda é comum vermos namorados um ao lado do outro agarrados às suas máquinas jogando, sem dar a mínima atenção à companhia que está ao seu lado! Fiquei com a impressão de que o mundo do jovem estava preso às pequenas máquinas!

Com o aparecimento dos rolezinhos, admitido que estou pensando diferente sobre o jovem brasileiro! Muitos, centenas, talvez milhares estão deixando seus aparelhinhos em casa e saindo para as ruas, para as praças para os Shoppings.

Lendo em jornais sobre os criadores desses primeiros encontros, vi que eles disseram que não tinham outra intenção a não ser conhecer outras pessoas, fazer amizade, divertir-se junto a novos amigos. É possível que o relacionamento feito via on line não os estivessem satisfazendo plenamente e eles quisessem mais proximidade de corpos e menos de correspondência! Acho que a explicação pode convencer a pais e a avós, embora não convença aos donos de lojas e proprietários de shoppings e correlatos. Procurei entender a explicação porque entendendo o espírito de aventura do jovem que está de férias, não tendo nada que fazer e estando proibido de ajudar a família porque esta poderá ser processada por permitir que o jovem faça algum trabalho, (lembram-se do Estatuto do Menor?) inventou os tais encontros. Podemos entender que o jovem, tendo os dedos doloridos e o cérebro embotado pelo uso das máquinas, tomaram a decisão de abandoná-las, pelo menos de vez em quando.

Por outro lado comecei a pensar que o jovem brasileiro cansado das eternas promessas de melhora do país, resolveu tomar providências. Jovens de todos os países do mundo foram muito importantes em mudanças radicais em governos que estavam deixando a desejar! Pode ser que eles pensaram nisso! A educação, com faculdades sendo fechadas; a saúde com a total falta de vagas em postos de saúde e em hospitais; o desemprego em todo o território nacional, certamente poderiam ser as causas dessa transformação da juventude brasileira! Pode ser que essa juventude esteja na vanguarda de uma revolução branca prestes a mudar os rumos do nosso país.

Todos nós fomos jovens e sabemos da potencialidade dessa idade. Quando se juntam, a potencialidade aumenta e certamente será imbatível pela força física!

O movimento está espocando por todo o país! Aqui e acolá a polícia dá o ar da graça e tenta amainar os ânimos da meninada. Quem está certo? Quem, errado? O que pensar? O que fazer? Alguma autoridade governamental saiu de seu gabinete e foi se encontrar com esses jovens? Alguém já foi ao encontro dos jovens e pediu uma explicação clara e sincera da causa desses movimentos? Será que consciente ou inconscientemente esses jovens estão querendo mudanças? É um ato de patriotismo? De civilidade? Eles estão trabalhando para a transformação moral e cívica do país? Ah! Por falar nisso, onde andam as aulas de Educação Moral e Cívica? Parece que estão fazendo falta, não parece?

Você pai, você mãe, vocês avô e avó que estão sentados nos sofás esperando as coisas melhorarem, saiam de suas comodidades, conversem com seus filhos e netos, vejam o que eles querem! Se for preciso, juntem-se a eles! Acho que o Brasil nunca precisou tanto de seus filhos quanto agora. Sem armas, sem luta, sem derramamento de sangue, vamos ao diálogo! Não é conversando que se entende? Pelo jeito o diálogo está nas ruas e não nos gabinetes! Imposições estão fora de sintonia! Agora é hora de ouvir o povo, a juventude!