Solitário

Solitário

Solitário em minha janela vejo a lua curiosa bisbilhotando as nuvens que passam  carregadas pelo vento na fria madrugada de inverno. Ela me parece fria como o vento frio que desmancha os meus raros cabelos, na minha janela não menos fria.  O meu olhar, não menos curioso do que a lua, bisbilhota os segredos  da lua, que muitas vezes se faz de difícil e se esconde por detrás de uma grande nuvem.  Eu, que estava sozinho, antes da presença da lua, já não me sinto tão solitário. Acompanhando a lua, sou uma criança de cabelos soltos ao vento brincando de esconde-esconde no grande terreiro do universo! Que Felicidade! E que terreiro enorme eu tenho para correr e para brincar com o meu cavalo de pau feito de cabo de vassoura da minha meninice! E como eu cavalgo entre as nuvens nas estradas de prata enfeitadas pelos brilhantes  que salpicam aqui e acolá, no pisca-pisca das estrelas! E como estou perto das estrelas!  Como sinto dentro do coração e da alma todo o clarão da via láctea! Meu coração salta por debaixo da minha camisa de menino pobre que quer conquistar o mundo! E o mundo desenha-se tão grande à minha frente! E como eu quero  conhecer o mundo! Como eu quero que o meu cavalo de pau se transforme em um pássaro fantástico capaz de perseguir a luz!

O meu pensamento é fantástico e mais rápido do que a luz! Ele é capaz de deixar a luz para trás e penetrar na escuridão, na infinidade do mundo!  O meu cavalo de pau que salta de nuvem em nuvem, transforma-se num  Pégaso! Agora, ele já não corre, já não pula, ele voa e relincha ao passar do vento com  suas crinas cor de ouro e cauda cor de prata!Ele solta a crina e estende a cauda, como se estivesse surfando num mar  de cristais intermináveis! Eu voo com ele sentindo o passar das nuvens! Já não sou eu que voo, são as nuvens que voam ao meu lado!

Eu me sinto verdadeiramente feliz! Feliz ao sentir o vento alinhando os meus cabelos, que tal a crina do meu cavalo, já são de ouro! Feliz por poder sonhar e viver o sonho! Feliz de me sentir criança, cavalgando o meu Pégaso, que não se cansa! Feliz, porque tenho um cavalo baio, cujas crinas se confundem com os meus cabelos longos, perscrutando  o mundo! A minha felicidade parece não ter  fim! A minha felicidade na imensidão do espaço me parece eterna!

Nada, entretanto é eterno! Nem no mundo dos sonhos e das ilusões! A felicidade é passageira, os sonhos são passageiros!  Somente a lembrança pode ser considerada  eterna, enquanto houver crianças, enquanto houver  poetas que se façam de crianças e nunca deixem de sonhar.

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