Um cara diferente

Um cara diferente

 

    Ele era um "cara" diferente! Gostava das coisas puras, das camisas de mesma cor! Embora gostasse do arco-íris, a sua cor preferida era o azul! Até sorvete ele não misturava! Como sentia-se feliz ao tomar uma taça de sorvete de único sabor! Se as pessoas quisessem tomar sorvetes misturados, eles estariam no mesmo tambor!

     Gostava muito de futebol, mas não torcia para nenhum clube! Não torcia para o São Paulo, o Corinthians, o Palmeiras, o Santos, nem para Flamengo, Atlético Mineiro. Cruzeiro ou para qualquer time do Brasil ou do exterior! Ele gostava do espírito do futebol: dos bons dribles, dos bons passes, dos gols bonitos! Para ele, falta dentro da área era pênalti, carrinho era falta e juiz ruim era juiz ruim! Não gostava de dar explicações para ocorrências! Ocorrências eram ocorrências, faziam parte do jogo, mas não eram, por ele, consideradas essenciais e não faziam parte de sua filosofia de vida!  

     Não gostava de comentaristas esportivos que falavam mais de si do que do jogo! Rádio e televisão não eram locais de autoajuda, nem confessionários, nem consultórios de psicoterapia de grupo!

     Em relação à música agia da mesma maneira! Gostava de todas as modalidades de música! Gostava da clássica, da música popular brasileira, da sertaneja, da argentina, da portuguesa e de tantas outras, mas, para ele, música boa era música boa e música ruim  era ruim!

     Pensava do mesmo modo em relação à poesia: era boa ou era ruim! Não gostava das poesias acidentadas como ele chamava as  de pés quebrados, das trombadinhas, como ele chamava as sem rimas e as de pernas  duras, como ele chamava as que  elas não tinham balanço! Essas deveriam ser afastadas do trabalho pelo Serviço de Previdência Social da Literatura, que deveria ser criado com urgência! Alguém lhe disse, entretanto que as acidentadas atualmente eram a maioria e não haveria tempo nem espaço para tantos afastamentos! Concordou, mas as afastou de sua vida!

     Falando nas mulheres! Ah, as mulheres! Como gostava de olhar para as mulheres! Não gostava, entretanto da mulher magra, da gorda, da alta, da baixa, da loura ou da morena, da bem vestida ou daquela apenas de biquíni! Ele gostava da feminilidade da mulher, da graça, da meiguice, do sorriso, do jeito de andar e de agir!  Não tinha preferência por um tipo! Provavelmente por isso estivesse solteiro aos 50 anos! Talvez gostasse mais da alma do que do corpo da mulher! Era espírita? Nada disso! Gostava de todas as religiões!  Em se tratando de religiões, achava que eram necessárias, porque sem religião o homem se tornaria  mais besta do que é, mas para ele, religião era uma fonte de estudos, de conhecimento dos povos atuais e de seus antecedentes! Aprofundando-se nos textos religiosos descobria coisas que nunca ouvira falar em templos religiosos! Por isso, amava todas as religiões! 

   Quanto à política! Ah, como era difícil  entender a política em todo o mundo! A do Brasil... Bem! Essa parecia ser a mais suja! Como a religião, ele gostava de aprofundar-se na política! Não a política partidária que tenta enganar o povo dizendo-se da esquerda, do centro, da direita, da centro-esquerda, da centro-direita, da  "esquerdada" da "endireitada"!  Ele gostava de estudar a essência da política, os seus fundamentos, os seus propósitos!

   Assim era ele! Considerado por uns o mais tonto dos tontos, o mais inútil dos inúteis e por outros o mais sábio dos sábios, o maior estudioso dos estudiosos!

     Ninguém o compreendia! No final, todos o compreenderam porque descobriram que moravam em um belo país onde a corrupção o dominava, comandado por uma sofisticada organização  chamada propina! ! 

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