Vida moderna
Olhos lacrimejantes de sonos perdidos nas madrugadas passadas nas mesas dos bares onde o álcool de várias origens correu a copos soltos; pulmões resfolegantes de práticas amorosas, não do verdadeiro amor, mas de sexo selvagem; pernas doloridas por freadas bruscas e acelerações desenfreadas, nas competições de rachas nas ruas e estradas nada desertas.
Dedos doloridos e meio tortos, ligados a mãos edemaciadas e quase sem sensibilidade, aumentando a artrose dos membros superiores pelo excesso de digitação nos celulares, à procura de notícias verdadeiras e falsas, caminhando pelas estradas que levam à aposentadoria precoce pela incapacidade laborativa das mãos.
Deglutição apressada de sanduíches mal mastigados, com pouca saliva, compostos de excesso de amido, de gorduras e de conservantes de todos os tipos, refrigerantes carregados de açúcar e de tantas outras drogas tentando enganar o estômago que tem fome de boas proteínas, sais minerais e vitaminas naturais vindo de cereais, legumes e verduras, mas nunca é abastecido por eles.
Livros começados a ler ao lado de outros que nunca foram folheados, jogados pelas mesas e criados mudos, perdidos na penumbra dos quartos e das mentes que se dizem modernas, mas jamais acenderam a luz da alma para aprenderem a pensar.
Jornais abandonados nas bancas que não mais estão gostando de vendê-los porque ocupam lugar e somente dão notícias “velhas” que a televisão com seus múltiplos canais e centenas de repórteres, que parecem morar dentro das emissoras, já cansaram de esmiuçar e debater. Fico com pena dos aposentados cujo passatempo é a televisão e algumas se gabam de funcionar 24 horas (falando a mesma coisa).
Mentes apoderadas de intenções falsas e ilusões pseudo-convincentes que não conseguem romper o círculo vicioso de querer dominar as pessoas e o mundo, dizendo aos desinformados que tudo vai bem e eles são os salvadores da pátria, da liberdade, da vida e alguns, até da alma.
Crianças inocentes expostas ao ridículo, ao serem perguntadas se querem ser do sexo masculino ou feminino, quando nessa idade pensam somente em viver e serem felizes dentro de suas famílias sem nenhuma preocupação com o sexo e com as taras dos adultos.
Nesta época de eleições vermos políticos de camisas de mangas curtas, calças amarrotadas e sorrisos velhos e falsos, mas bem treinados à frente de espelhos, falando palavras bem populares ao transmitir promessas que sabem que jamais serão cumpridas.
Pseudo escritores ávidos pela fama, escrevendo livros e livros, dizendo que amor é sexo, poder é ter capacidade de subjugar, vitória é fazer correr sangue, herói é o que mata.
Isto é vida moderna? Eu disse vida?