A aversão ao voto útil
Contextualização:
Nessa reta final das eleições municipais no Brasil, o tema sobre o voto útil torna-se um grande foco de debate. Em todas as eleições encontramos uma realidade parecida: projeções apresentando possíveis candidatos como eleitos e, depois das votações, vemos cenários distorcidos da pesquisa pré-eleição.
Nessas possibilidades distorcidas, muitos candidatos antes com números inacreditáveis de alcançarem o pleito, aparecem como os vencedores selecionados de certa região. Essa situação traz um questionamento acerca da influência da pesquisa eleitoral, juntamente com as amostragens das intenções de votos sobre a decisão de escolher um político. Esse contexto trata-se do conceito de voto útil.
Voto útil é um comportamento:
O eleitor pode buscar centralizar suas escolhas em um reduzido grupo de candidatos, sendo escolhidos pelo grau de competitividade que o votante considera ter determinado político.
Assim, o eleitor realiza uma análise da probabilidade de cada candidato em ir para o segundo turno. Uma das justificativas do votante para a realização dessa estratégia é garantir que sua participação eleitoral não será “desperdiçada” ao defender um candidato sem possibilidades firmes de vitória.
Isso ocorre, principalmente, em disputas acirradas, o qual a vontade em votar do eleitor é inclinada a um planejamento tático, e não escolher no político de maior identificação ideológica, mas sim decidir um indivíduo que não é o seu favorito, intencionando impedir que outro candidato seja eleito.
A aversão é um tópico mais forte que o prediletismo?
Há pesquisadores que apontam que a afirmação sobre a postura de parte dos cidadãos, os quais votam em quem se destaca nas pesquisas de estimativa para não “perder o voto" é uma análise superficial. O voto útil descreve um contexto o qual mostra "um não votar" pautado em convicções, como selecionar um candidato para impedir que certo político, partido ou ideologia que o votante despreze fortemente seja eleito. No segundo turno é costumeiro acontecer em uma votação majoritária, na qual votantes dos candidatos fracassados ficam em frente de uma alternativa baseando-se no ditado popular “dos males o pior”.
Conforme a fala de Paulo Kramer, cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB): “O voto útil é, na verdade, mais do que expressar uma preferência por um candidato. Ele expressa uma extrema aversão aos concorrentes”. Kramer esclarece o motivo do voto útil ser também uma demonstração de veto e oposição, já que esse tipo de tática é feito sempre com o objetivo de prevenir o que o eleitor pondera como o pior cenário.
Mas o que o voto útil tem a ver com economia?
Conforme o vencedor do prêmio Nobel da Economia, Eric Maskin o propósito terminal de qualquer decisão econômica é a melhor utilização dos poucos recursos. Essa argumentação seria uma das base de Maskin para estudar os impactos dessa estratégia de voto. Ele relaciona a finalidade de decisões econômicas, o qual o voto seria um recurso como posses e bens e, quanto mais for usado trazendo benefícios a si, representaria uma maior democraticidade de determinada nação. Trazendo esse caso para nosso contexto, sistemas eleitorais como o do Brasil incentivam que o votante avalie estrategicamente o que consolida o denominado voto útil ou tático.
Essa realidade ocorre devido ao indivíduo decidir uma escolha de acordo com ao princípio minimax (em tomadas de decisões seria um método para minimizar uma possível perda máxima), apresentado por John von Neumann. Consoante essa regra, a qual faz menção ao esqueleto da teoria dos jogos, a intenção é poupar e evitar o dano absoluto. Desse modo, o votante “desiste” de eleger o seu candidato que é, de início, favorito para evitar a vitória de um político que antipatize.
Contradições?
O outro lado que deve ser levado em conta é que o cidadão ao abandonar seu político predileto, corrobora com a falsificação do resultado final das urnas e também auxilia no enfraquecimento de sua ideologia e opinião própria, diminuindo de maneira drástica a representação do pleito de sua preferência no poder.
Nesse caso, o professor Ricardo Ismael sugere que os eleitores escolham o candidato de seu favoritismo no primeiro turno, já que, ele ainda tem chances de atingir o segundo turno, apesar de que as pesquisas não precisam ser desconsideradas, mas é preciso vê-las com cautela e verificar todas as tendências.
Muitos demonizam o voto útil pelo argumento o qual todo votante deveria votar naquele considerado o mais qualificado para administrar a gestão pública do Brasil em sua visão pessoal, avaliando os projetos governamentais, sem se deixar ser influenciado por ponderações de táticas eleitorais ou rejeições, uma conduta que seria destinada ao período do segundo turno.
Vemos que é fácil condenar o voto útil, porém esse pensamento não mascara o estabelecimento dualista de colocar um “modo correto” e um “modo incorreto” de eleger? Um voto colocado na urna por apreensão e desprezo não é menos relevante que um voto realizado por crença e ideais. Nesse sentido, o voto útil mostra um aspecto a respeito do que seria mais adequado para o país, mesmo sendo escolhido pelo método da exclusão, evidenciando, neste contexto, o quanto melhor para o país seria não eleger um político, sendo isso até mais significativo que o nomeado como vencedor.
Texto escrito por Jaiene Naiara Ferreira Souza, estudante de Ciências Contábeis na FEA-RP/USP
Imagem: Commons