Crise do abastecimento hídrico no Brasil

Crise do abastecimento hídrico no Brasil

    Garantir o acesso à água de qualidade a todos os brasileiros é um dos principais desafios que, à tempo, vem evidenciando a ineficiência do Brasil na viabilização desse bem comum. Um país como o Brasil apresentando crise hídrica chega a ser irônico, tendo em vista a abundante rede de recursos hídricos disponíveis no país. O Brasil detém o maior mapa hidrográfico do mundo, abarcando 12% da água doce do planeta, segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), destacando-se a bacia amazônica, a maior do mundo em volume de água.

 

  Isto posto, vê-se que o motivo responsável que faz o país não atender toda a sociedade com qualidade e eficiência suficiente, é relacionado não somente à falhas gestão pública, como também à negligência social e empresarial, que ocorre tanto em termos de infraestrutura e gestão de recursos naturais por parte do Estado, quanto por degradação ambiental e mudanças climáticas por ações negligenciáveis da sociedade e setor privado. 

 

    Ao analisar o papel do Estado e os problemas causados pela falta de eficiência governamental, um dos principais problemas é a falta de planejamento estratégico por parte do governo. A gestão dos recursos hídricos requer uma abordagem integrada, que considere não apenas a oferta e a demanda, mas também os aspectos socioeconômicos e ambientais. Infelizmente, muitas vezes observa-se uma falta de coordenação entre os órgãos governamentais responsáveis pela gestão da água, o que leva a decisões fragmentadas e desalinhadas.

 

    De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), mais de 35 milhões de pessoas no Brasil ainda não possuem acesso à água tratada.

    Um dos casos recentes de escassez de abastecimento por ineficiência do governo aconteceu em São Paulo. Entre 2014 e 2015, a região metropolitana de São Paulo enfrentou uma das piores crises hídricas da sua história. O sistema de abastecimento do Estado foi severamente afetado, levando a medidas como racionamento de água e aumento de tarifas. Isso devido a falta de água em reservatórios como o do Cantareira, por exemplo, conforme infográfico do G1 de 2018.

    Além disso, o sistema de abastecimento de água potável registra, em média, uma taxa de perdas de 37%. Essas perdas representam uma quantidade considerável de água desperdiçada. Ademais, devido ao desmatamento acelerado que poderia ser evitado com políticas públicas, o Brasil vem sofrendo uma perda de 15,7% da superfície de água nos últimos 30 anos, o equivalente a 3,1 milhões de hectares de superfície hídrica, revela levantamento inédito do MapBiomas. 

  

    Esse caso de distribuição inadequada é potencializado quando observamos o setor privado seu nível de consumo de água desenfreado, convergindo, assim, quase que a totalidade desse recurso exclusivamente para si.

 

    Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), é a atividade agropecuária a principal responsável pelo uso da água. De acordo com a entidade, 70% de toda a água consumida no mundo é utilizada na irrigação das lavouras, número que se eleva para 72% no caso do Brasil, que é um país com forte produção nesse setor da economia.

    Nesse sentido, ao se deparar com o consumo displicente de água da sociedade, fica evidente que é, sem dúvidas, uma das causas do aumento de consumo em algumas regiões do país em detrimento de outras, como Sul e Sudeste em relação a Norte e Nordeste. 

 

    O crescimento populacional, a urbanização acelerada e o desenvolvimento econômico são alguns dos principais impulsionadores do aumento do consumo de água. Grandes centros urbanos e regiões com atividades industriais intensas tendem a demandar quantidades significativas de água para atender às necessidades da população e dos setores produtivos. Isso resulta em uma maior pressão sobre os recursos hídricos disponíveis nessas áreas.

 

    Exposto o problema de distribuição de água, é evidente a necessidade de medidas governamentais a fim de ampliar o acesso à água para todas as regiões do país, de modo a fornecer bem-estar para a população que sofre com falta de saneamento básico, como também com escassez de água potável para consumo.

 

    Uma das medidas mais famosas dos últimos anos para atender, tanto a população, quanto os trabalhadores rurais, principalmente do Nordeste, foi a transposição do Rio São Francisco.

    Com o objetivo de sanar a deficiência hídrica na região do semiárido, foi planejada a transferência de água do Rio São Francisco para abastecimento de açudes e rios menores na região nordeste, garantindo dessa forma, a segurança hídrica para mais de 390 municípios no Nordeste Setentrional, regiões onde a estiagem ocorre frequentemente. 

 

    Por fim, é possível observar que o Brasil sofre com a desqualificação e despreparo do Estado para atender as demandas sociais a esse bem comum. Mas também foi possível reparar que as empresas, principalmente do setor agropecuário, têm um grande papel nesse gasto irresponsável dos recursos hídricos, e por consequência, na má distribuição de água para o país. 

 

Referências:

 

https://www.gov.br/fundaj/pt-br/destaques/observa-fundaj-itens/observa-fundaj/transposicao-rio-sao-francisco/a-transposicao-do-rio-sao-francisco-aspectos-polemicos-e-juridicos

 

https://ruralcentro.com.br/noticias/72-de-toda-a-agua-consumida-no-brasil-e-utilizada-no-agronegocio-86163

 

https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-10/agua-no-brasil-da-abundancia-escassez

 

https://g1.globo.com/natureza/noticia/2021/08/23/brasil-perdeu-15percent-dos-seus-recursos-hidricos-nos-ultimos-30-anos-uma-perda-quase-o-dobro-da-superficie-de-agua-de-todo-o-nordeste.ghtml

 

Vinícius De Oliveira - Graduando em Administração, FEARP-USP

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