Direita X Esquerda

Direita X Esquerda

Ao longo dos últimos anos, aflorou-se o interesse de inúmeras pessoas pela política no Brasil. Até aí, uma excelente notícia. No entanto, infelizmente, por falta de conhecimento e educação, criou-se uma onda de banalização de termos como fascismo, nazismo e comunismo, entre outros. Atualmente, tais conceitos são utilizados de forma irresponsável, não apenas nos almoços de família e nos bares, mas principalmente, nas redes sociais; contribuindo para a desinformação e a polarização política. Por isso, neste artigo, trataremos de dois conceitos que provavelmente são os mais banalizados entre todos: “direita e esquerda”.

 

A Origem

Se os brasileiros, neste momento, definem suas visões políticas como uma criança gaúcha escolhe o seu lado no Grenal, muito se deve à um evento que ocorreu na Revolução Francesa. Na Assembleia Nacional Constituinte, os Girondinos, os quais eram defensores dos interesses dos nobres, decidiram se posicionar no lado direito, enquanto os Jacobinos, revolucionários e opositores, sentavam-se na esquerda. A partir de então, o termo “direita” passou a ser relacionado com aqueles que defendiam os interesses dos nobres. Em oposição, o termo “esquerda” passou a ser relacionado aos radicais que batalhavam pelos interesses populares. Apesar de ser importante conhecer as origens dos termos, estas definições são um pouco rasas para representarem direita e esquerda no momento atual.

Para a surpresa de muitos, é necessário apontar que não existe um consenso quanto a uma definição única e comum de esquerda e direita. Tal problema surge na medida em que estes conceitos são associados a diversas correntes de pensamento político. Além disso, uma definição simplista não conseguiria representar as inúmeras contradições humanas. Porém, apesar de não existir uma definição precisa, existem dois conceitos que são comumente associados aos grupos de direita e de esquerda nas principais democracias modernas do mundo.

 

Conservadorismo x Progressismo

Além do já exposto, a revolução francesa deu uma outra grande contribuição para o conceito de esquerda e direita: um intenso confronto entre dois grandes pensadores. De um lado, Edmundo Burke, o qual liderava a defesa dos valores tradicionais. Do outro, Thomas Paine, pensador libertário de grande influência na independência americana. Paine acreditava que a razão humana seria capaz de permitir que os homens criassem uma sociedade melhor a partir de um planejamento teórico, ideológico e político. Este pensamento é a base do que chamamos de “progressismo” atualmente (esquerda). Burke, por outro lado, desacreditava na capacidade humana de recriar um sistema social eficiente a partir do zero. Diante disso, ele apontava que as tradições deveriam ser defendidas com o fim de preservar a sociedade desenvolvida ao longo da história. E, tal como Paine foi para o progressismo, o pensamento de Burke foi uma das bases para o que chamamos de “Conservadorismo” (direita).

 

Direita e esquerda no contexto moderno

No contexto moderno, diversas causas são atribuídas a um lado ou ao outro. No entanto, muitas vezes, essas causas são voláteis ou incoerentes e, desta maneira, dificulta-se uma definição simples dos valores defendidos por um espectro político ou outro. Por exemplo: no Brasil, a esquerda, usualmente, é relacionada a uma maior intervenção estatal na economia e ao apoio a legalização das drogas, enquanto a direita, em tese, pregaria uma menor intervenção do estado na economia e seria contra essa legalização. Contudo, o ex-presidente Lula, durante o seu mandato, se posicionou contra a legalização das drogas. Por outro lado, seu antecessor Fernando Henrique Cardoso, notoriamente conhecido por estar à direita de Lula, dizia-se a favor da legalização.

Um exemplo muito mais emblemático é a economia no período do regime militar. Sem sombra de dúvidas, os governos militares foram conhecidos por serem de direita. Porém, neste período, viu-se uma das fases de maior intervencionismo do estado na economia brasileira. Sendo assim, mesmo ao basear em um pequeno recorte de tempo e em um único país, fica evidente que as características relacionadas aos dois lados não são precisas ou uniformes. Uma ideia que ajuda a entender este ponto é o fato que, ao tentar dividir o mundo em duas categorias, necessariamente coloca-se correntes políticas conflitantes no mesmo grupo. Além do mais, as noções de direita e esquerda são distorcidas dependendo da ótica de cada indivíduo. Com isso, alguém posicionado no extremo de um espectro político, certamente, verá qualquer outro indivíduo como do lado oposto. Isto, por consequência, dificulta ainda mais a identificação sobre o que realmente retrata direita ou esquerda.

 

Em síntese, apesar de filosoficamente direita e esquerda serem completamente opostas, na prática, as ideias atribuídas à cada um dos lados se cruzam e se modificam ao longo da história e da cultura de cada região. Desta forma, por mais sedutor que seja, é praticamente impossível classificar toda a complexidade humana em apenas dois blocos.

Imagem: Peggy und Marco Lachmann-Anke por Pixabay

Texto escrito por Breno Lucchesi Borges, estudante de Administração na FEA-RP/USP

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