O Espelho Musical

O Espelho Musical

    “Ah! Se o mundo inteiro me pudesse ouvir. Tenho muito pra contar, dizer que aprendi. ” Com essas palavras, Tim Maia, um dos maiores músicos brasileiros de todos os tempos, iniciava uma de suas músicas mais icônicas: “Azul da cor do mar”. Por meio dela, o cantor almejava alcançar pessoas e externalizar os seus sentimentos e, dessa forma, identifica-se, quase que explicitamente, a definição de música: a arte de combinar sons para a expressão.  Indubitavelmente, a arte musical sempre foi imprescindível aos seres humanos, pois, por intermédio dela, os indivíduos transmitem os mais diversos tipos de mensagens. Quando se fala de política, pensamos em administração pública em prol do progresso social e, se refletirmos na ideia de que a harmonia do coletivo, em diversos momentos da história, inexiste no nosso país, evidencia- se a necessidade do corpo social de possuir um meio de expressão que escancare a realidade e registre o panorama de determinadas épocas. Assim, a música se torna um fator pertinente no tocante à exposição do cenário brasileiro nos tempos atuais.

    Outrossim, quando se entende que a música é inerente aos caminhos políticos e sociais de uma nação, não se estranha ouvir o rapper Djonga lançando produções artísticas que confrontam o racismo no território brasileiro em uma época que há uma tentativa absurda de negação dessa mazela. 

 

                 

“Falo o que tem que ser dito! Pronto para morrer de pé, pro meu filho não viver de joelho”.

Djonga- Hat Trick

 

 

    Torna- se justificável a mensagem essencial do clássico da música nacional, “Cidadão”, na voz de Zé Ramalho: um trabalhador humilde que ajudou na construção de edifícios em grandes cidades não possui condições nenhuma para frequentar o lugar que ele colaborou para existir, escancarando, pois, a desigualdade social do país.

    

 “Tá vendo aquele edifício, moço? 

 Ajudei a levantar

 Foi um tempo de aflição, 

era quatro condução, 

duas pra ir, duas pra voltar”.

 Zé Ramalho- Cidadão

 

 

    Ademais, observa- se, na voz de Zeca Pagodinho, a indignação popular contra as falcatruas políticas em tempos de eleições, as quais promessas são anunciadas, mas, posteriormente, não são cumpridas.

            

     Eu moro numa comunidade carente
   Lá ninguém liga pra gente
   Nós vivemos muito mal
  Mas esse ano nós estamos reunidos
     Se algum candidato atrevido
For fazer promessas vai levar um pau”. 

 Zeca Pagodinho- Comunidade carente

 

    Brilhantemente, Djavan, com sua música “Solitude”, apresenta um imperativo contemporâneo: estamos regredindo e tendo uma ilusória sensação de evolução.

                                 
     "Um mundo louco

       Evolui aos poucos 

       Pela contramã"

       Djavan - Solitude

     

 

       Em suma, nota- se que para compreendermos melhor a nossa realidade, basta enxergamos nas criações musicais dos grandes artistas os assuntos pertinentes que dizem respeito ao nosso corpo social. Portanto, ouvir os grandes compositores nacionais é visualizar um espelho que revela os reflexos dos caminhos tortuosos trilhados pelo país. Olhar para a música popular no Brasil é ter a oportunidade de se politizar, é enxergar sujeiras que ficam debaixo do tapete e, sobretudo, é valorizar o veículo que reafirma verdades e identidades.  

 

 

Leonardo Borges - Codiretor do Conteúdo&Pesquisa

 

 



      

 

 

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