Revolução nos postos de trabalho

Revolução nos postos de trabalho

Qual o futuro dos postos de emprego ? Qual profissão você deseja ter no futuro? Essas são perguntas muito frequentes na era da informação, tendo em vista o avanço desenfreado da tecnologia e o impacto inevitável na funcionalidade das tarefas de diversos setores. 

 

Nessa procura por respostas sobre a renovação das carreiras, a OCDE (organização de cooperação para o desenvolvimento econômico) fez uma pesquisa com 600 mil adolescentes, entre 15 anos, em 2018, que responderam sobre qual carreira desejam seguir futuramente. 

 

Entre os dados apurados na pesquisa da OCDE e feitas pelo Pisa (Programme for international student assessment ou Programa internacional de avaliação do estudante), tem-se as seguintes afirmações: 47% das meninas e 53% dos meninos sonham com um número cada vez mais concentrado de carreiras. Os meninos querem ser, prioritariamente, e em ordem: engenheiro, administrador, médico, profissionais de TI, atleta, professor, policial, mecânico, advogado e arquiteto. Já as meninas sonham em ser, de forma ordenada: médica, professora, administradora, advogada, enfermeira, psicóloga, designer de interiores, veterinária, policial e arquiteta. 

 

Tais dados demonstram bastante sobre como a sociedade ainda sofre pela influência de estereótipos que prometem seguridade financeira ao ingressar em determinadas profissões mais famosas e prestigiadas. 

 

Entretanto, mesmo nessas áreas ainda existem riscos. Isso se dá por meio de evasão, tanto por falta de interesse, quanto por falta de habilidade, sendo esse último, na maioria das vezes, o maior motivo do abandono da área, mesmo tendo a premissa de garantia de um bom poder financeiro.

 

Um exemplo desses casos é o curso de engenharia. Observado tanto nas instituições de ensino públicas quanto privadas, o alto índice de abandono dos cursos de engenharia tornou-se um grande problema. O principal motivo para a evasão, identificado por especialistas e profissionais da área, diz respeito à grade curricular que oferece a mesma formação de 20 anos atrás, com peso excessivo de disciplinas consideradas duras, tais como cálculo e física. 

 

Outra visão ou interpretação que os dados da OCDE (a respeito do sonho de possíveis campos de trabalho para meninos e meninas) pode nos fornecer, é que os jovens não estão dando a devida atenção às novas oportunidades de emprego que são criadas com o integração da internet no mercado de trabalho, e ficam mais focados em profissões seguras, como exposto anteriormente. 

 

Programação, por exemplo, é uma das áreas que mais crescem, à medida que coloca outras profissões em cheque, como contadores e advogados, por exemplo. Essa função tem uma grande demanda de profissionais a nível técnico e acadêmico, porém existe uma larga escassez de profissionais, justamente pela falta de interesse da nova geração em ramos tecnológicos. Isso devido a falta de orientação do leque de atuação que essa formação pode oferecer e por exigirem proficiência em disciplinas de ciências exatas, sobretudo no Brasil, onde o Pisa de 2018 divulgou que o país é o 69º no ranking de 78 países que fazem parte da pesquisa, e entre as nações da América do sul o Brasil figura nas últimas posições juntamente com a Argentina, tendo, respectivamente, 384 e 379 pontos. 

 

Para mais, é necessário citar que quase um terço dos trabalhos citados pelos entrevistados têm chances reais de serem extintos ou substituídos por máquinas na próxima década.

 

World Economic Forum ou Fórum econômico mundial, por meio do relatório do emprego, listam algumas funções que podem ser, em breve, substituídas por algoritmos matemáticos ou robotizados, como por exemplo: contadores, advogados, mecânicos, motoristas, trabalhadores de fábricas, gerentes administrativos, caixas auditores e bancários.

 

Para exemplificar, trazemos o caso do grupo de pesquisa HabeasData, um grupo de pesquisa da FEARP (Faculdade de administração, economia e contabilidade da USP Ribeirão Preto). Esse grupo tem por objetivo projetos ligados à estatística aplicado à advocacia. Um dos projetos é direcionado a “base de dados para decisões legais” que tem a função de extração de decisões legais e dados jurídicos para prover um acesso aberto e servir aos propósitos acadêmicos das instituições de pesquisa.

 

Esse tipo de projeto, caso vire empresa, acabaria com boa parte das funções de um advogado em procurar casos e jurisprudências para serem usados nas defesas.

 

 

No universo da programação, uma das áreas em voga que mais estão em ascensão é a programação e desenvolvimento em python. Ela atua no desenvolvimento de sistemas utilizando uma linguagem mais simples para os desenvolvedores, ou seja, não é necessário uma profunda especialização acadêmica no processo. Além do mais, os profissionais que mexem com python têm ótimas propostas salariais entre R$7 mil e R$14 mil, segundo dados apurados da reportagem de Luisa Granato, da Exame, em janeiro de 2020. 

 

Dentro do exposto até aqui, a despeito da revolução nos posto de trabalho, vale ressaltar, não só as grande oportunidades de emprego e salários, mas como também é preciso olhar com cautela para subemprego que nascem junto a essa era digital, mas que, sobre a vitrine da tecnologia ganha um papel de “empreendedorismo”.

 

Nesse sentido, temos o recente desafio da uberização do trabalho: esse é um modelo de trabalho informal que se utiliza da tecnologia, com criação de aplicativos de busca, para promover uma nova roupagem no ramo de transporte e entrega. Assim, a premissa destes ramo é oferecer uma larga gama de produto ou serviços com rápida execução de tarefas, e que do ponto de vista do colaborador, promova um serviço mais flexível, no qual o profissional trabalhe apenas com demanda e organize seus próprios horários, em detrimento de vínculos empregatícios com a empresa, como: carteira assinada, benefícios previdenciários e uma salário fixo.  

 

Ademais, é interessante citar o relatório produzido pela Fairwork Brasil 2021, que analisa as condições de trabalho nas principais plataformas  no país, por meio de uma pontuação que varia de 0 a 10 com critérios do tipo: remuneração, condições de trabalho, contratos, gestão e representação. Nessa avaliação, empresas com ifood e 99 receberam 2 pontos, enquanto a Uber recebeu apenas 1. Portanto, é evidente a precarização das condições de trabalho nesses aplicativos. 

 

Parte disso é causado pela falta de uma regulamentação do setor. Há, no entanto, a intenção do governo em regulamentar o trabalho por aplicativo. A proposta prevê a contribuição para o INSS, mas deixa claro não haver vínculo empregatício entre os prestadores de serviços e as plataformas digitais. 

 

Entre toda a discussão sobre o futuro do trabalho, as novas oportunidades e desafios, além da possibilidade de extinção de alguns cargos, existe um ponto interessante

 

a ser feito uma pequena ressalva e que ainda perdura nessa nova era da produção e de serviços: é a questão do gênero no mercado de trabalho. 

 

Segundo a socióloga política e Acadêmica Elisa Reis, professora titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, sobre a questão do gênero no mercado de trabalho, ainda há costumes arraigados na sociedade que fazem crer que existe uma “diferença características intrínsecas e divisões naturais de funções reservadas a homens e mulheres”.

 

Esse absurdo acarreta na ausência de mulheres em cargos, não só de liderança, mas em cargos relacionados a tecnologia, que incorpora o novo rol de funções com grande valor agregado e que precisam de capacitação adequada. Segundo o Censo da Educação Superior de 2016, as mulheres já representam 57,2% dos estudantes matriculados em faculdades, porém, mesmo com esses dados, às mulheres, em cursos de exatas, são a minoria esmagadora das partes. O mesmo Censo de 2016, mostra que em engenharia mecânica elas são 10,2% e em elétrica são 13,1%. Esses dados fazem com que as garotas se desestimulem a entrar nesse universo, que é predominantemente masculino, ainda por questões arcaicas como as citadas. 

 

CONCLUSÃO 

 

O artigo passa pela revolução nos moldes de emprego, que agora, mais do que nunca, necessitam de se conectar às redes de informação e comunicação. Isso afeta não só o preparo das pessoas em relação às novas áreas que surgiram, mas também as leva a questionar se as antigas profissões, que se dizem consistentes, realmente sobreviveriam à nova era dos negócios. Além do mais, é possível perceber de forma clara que mesmo com esse avanço tecnológico, questões sociais de relação de poder entre gênero que ainda perduram podem ser acentuadas com essa nova ferramenta de trabalho: a internet. 


 

Vinícius De Oliveira - Graduando em Administração, FEARP-USP.

 

 

REFERÊNCIAS 

 

http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/211-218175739/83191-pisa-2018-revela-baixo-desempenho-escolar-em-leitura-matematica-e-ciencias-no-brasil#:~:text=Matemática%3A%20OCDE%20489%2C%20Brasil%20384,no%20ranking%3A%2064º%20e%2067º < acesso 03/10/2022 >

 

https://exame.com/carreira/15-cargos-em-alta-na-area-de-tecnologia-com-salarios-de-ate-r-45-mil/ < acesso 03/10/2022 >

 

https://ibijus.jusbrasil.com.br/artigos/733060361/perfil-do-advogado < acesso 03/10/2022 >

 

https://revistapesquisa.fapesp.br/engenharia-em-reconstrucao/ -acesso 04/10

https://fair.work/wp-content/uploads/sites/131/2022/03/Fairwork-Report-Brazil-2021-PT-1.pdf  < acesso 04/10/2022 >

 

https://www.abc.org.br/2019/03/08/por-que-as-meninas-nao-querem-fazer-ciencias-exatas/  < acesso 04/10/2022 >

 

https://www.youtube.com/watch?v=i2ctSTNaMvg  < acesso 05/10/2022 >

 

https://habeasdata.fearp.usp.br < acesso 05/10/2022 >

 

 

 

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