Aplicativos de Controle Parental e o afastamento das relações entre pais e filhos.
Patrícia Manzoli
16 Fev 2024 11:02
Os aplicativos de controle parental em smartphones existem e prometem exercer atividades de monitoramento tanto de conteúdos inapropriados na internet quanto de controle do tempo de uso de tela. Alguns aplicativos afirmam ter opções de localizadores da criança e até mesmo a possibilidade de ouvir os sons ao redor da criança, ou seja, ouvir a conversa alheia!!! Em nome da segurança dos pequenos e dos adolescentes, esses aplicativos vendem o medo! As propagandas chegam a ser chocantes, cenas de crianças sendo sequestradas, e mesmo a mais sutil dessas cenas também não deixa de chocar ao mostrar o rosto de surpresa ou indignação das crianças ao terem seus celulares bloqueados sem sequer um aviso prévio!!!
O controle parental é um trabalho constante dos pais, a ideia vendável de terceirizar esse processo é na verdade uma ilusão, pois bloquear um conteúdo inapropriado ou tempo de uso de tela não é necessariamente um processo educativo em que a criança poderá desenvolver o real entendimento e tomada de consciência dos perigos deste universo. Além disso, o controle inibitório é uma função executiva do cérebro que necessita ser desenvolvida na criança, esse desenvolvimento refere-se à capacidade de inibir comportamentos em detrimentos de outros , desenvolver a habilidade de filtrar ações e pensamentos, controlar impulsos, eliminar distrações e refletir antes de agir. Todos esses processos são impossíveis de serem construídos se os pais não oportunizarem situações de frustações, debates, reflexões e limites. Um aplicativo jamais será capaz de construir essa relação, isso depende necessariamente de tecer relações humanas complexas.
Uma pesquisa da Universidade da Flórida Central revelou que esses aplicativos geraram um afastamento na relação entre pais e filhos. A quebra de confiança, a falta de diálogo contínuo demonstram que pais que transferem para os apps o controle parental são mais propícios a não ouvir seus filhos, são autoritários mas não possuem autoridade sobre os filhos. O afastamento e quebra de confiança geram uma falta de admiração e respeito na relação entre filhos e pais. Educar requer uma dedicação contínua cuja temporalidade deste processo não tem relação alguma com a temporalidade dos processos tecnológicos. estamos falando aqui do tempo de desenvolvimento humano, um caminho longo a ser percorrido que implica no amadurecimento, não apenas da criança e adolescente mas principalmente do adulto no seu papel de mãe e pai.
