A educação que vem das jabuticabeiras! (O erro de Descartes).

A educação que vem das jabuticabeiras! (O erro de Descartes).

Em uma manhã quente, depois de andar de bicicleta e fazer uma pausa para recuperar o fôlego parei diante de dois pés de jabuticabeiras e uma delas estava repleta das deliciosas frutinhas! Uma moça mais baixa que eu, estava sobre uma cadeira colhendo algumas jabuticabas. Sua mãe e seu pai, já idosos, estavam aos pés da árvore a observando e curtindo o momento. Foi então que eu e meu marido chegamos mais perto e todos juntos começamos uma gostosa conversa sobre as jabuticabeiras. A família oriental contava sobre a história daquelas árvores e quantas gerações já haviam colhido seus frutos. Falamos do quanto as crianças se maravilham em ver a magia das frutinhas cobrindo o tronco, bolinhas escuras brotam cobrindo cada espaço que sobrar.  Ao colocar na boca, um sabor azedinho e doce se misturam no paladar. Que delícia a sensação de “explodir” as bolinhas pretas na língua, sentir o caldinho da fruta e ouvir o som da casca se abrir . São segundos ou talvez milésimos de um segundo em que todo esse conjunto de sensações acontecem. Mas você já se perguntou o que esse pequeno momento pode fazer para a vida de uma criança?

As sensações e as emoções são os que nos ligam ao mundo, a nossa razão depende imensamente dos nossa capacidade de perceber as sensações e nossas emoções. Pois é! Geralmente tendemos a separar razão e emoção numa tentativa cartesiana de colocar o mundo em planos, em eixos opostos, e isso foi chamado brilhantemente de “O Erro de Descartes" por António Damásio, médico e neurocientista português. Aliás, este livro é brilhantemente delicado ao demonstrar que as emoções são indispensáveis para a nossa vida racional. São as emoções que nos fazem únicos, é o nosso comportamento emocional que nos diferencia uns dos outros. O erro portanto estaria na contraposição, no dualismo cartesiano no qual a alma (razão pura) é independente do corpo e das emoções, e não ocupa lugar no espaço. 

As jabuticabeiras nos ensinam a colher no tempo certo; antes não há fruto nem sabor. Está aí, a oportunidade de aprender a controlar o nosso comportamento, a nossa ansiedade.  Se esperarmos o tempo certo teremos a chance única de percepção; primeiramente o espetáculo visual da beleza de uma jabuticabeira repleta de frutos e depois a maravilhosa descoberta das sensações e texturas! A criança então aprenderá a observar, escolher, ter inteligência e desenvolver habilidade para subir na árvore e estabelecer uma estratégia segura para isso.  Finalmente irá ganhar a oportunidade de guardar toda essa experiência que se repetirá por inúmeras vezes se transformando em memória afetiva. Esta memória será a lembrança da apreciação que vivemos, a lembrança do estado deste corpo e da mente enquanto sensações se transformam em emoções. Por isso, temos em nossas mãos o pote repleto de oportunidades para nos conhecermos melhor. Um pote de jabuticabas e junto com ele a educação pelos sentidos, pela emoção das escolhas que aprendemos a fazer a cada novo instante de vida! 

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