O desenvolvimento do pensamento crítico no ato de educar é possível?

O desenvolvimento do pensamento crítico no ato de educar é possível?

Cresci percebendo que nem todos ao meu redor pensam como eu penso, e o que eu penso não é algo rígido e imutável. Mas infelizmente vejo muita gente deixando para a sociedade exemplos pouco tolerantes e nada flexíveis.

A primeira característica da atitude filosófica é a negativa, aprender a  dizer não. Essa negativa inicial do processo filosófico deve ser dada ao senso comum, devemos negar os pré-conceitos, os pré-juízos, os fatos que parecem imutáveis e duvidar das ideias . Sabe quando somos crianças e temos inúmeros porquês e a resposta que nos atribuem é um sonoro: PORQUE SIM!  Isso é realmente uma lástima pois nos limita a dar início a uma postura filosófica , nos limita a começar negando verdades absolutas e muitas vezes transmitidas culturalmente sem um processo reflexivo.

Mudar o cérebro conforme a experiência é um processo de auto-organização cerebral que resulta em aprendizado. Sobre este assunto a neurociência chama de plasticidade cerebral e com certeza esta plasticidade é muito maior na infância, mas isso não significa que depois deste período tudo se torna rígido para o processo de aprendizagem.

A segunda característica da atitude filosófica é positiva, isto é, uma interrogação sobre o que são as coisas, as ideias, os fatos, as situações, os comportamentos, os valores, e até sobre nós mesmos. O que? Por que ? Como ? Essas são as indagações fundamentais da atitude filosófica segundo a filósofa Marilena Chauí em seu clássico livro Convite à Filosofia.

Acredito que uma das maneiras mais prósperas de desenvolver o pensamento crítico seja fazendo este duplo exercício proposto acima. A negação e posteriormente a positividade dos questionamentos. 

Voltando à minha percepção sobre o pensamento e o comportamento alheio; fico muito incomodada quando vejo um jovem tentando impor seus pensamentos a um idoso de pensamento mais inflexível. Esquece o jovem que o idoso está totalmente alinhado com os valores de sua época!  Isso me incomoda, porque sei que as questões geracionais, os desafios da moral e costumes de cada época ,são desafios que devem ser trabalhados com sabedoria e amor. Da mesma forma também me incomoda ver os mais velhos agirem como "mestres explicadores" que sabem de tudo sobre a vida e que o jovem a sua frente não sabe de nada!

Sempre somos mestres e alunos de alguém, desempenhamos este duplo papel ,mas há quem se ache eterno mestre!

Para que a inteligência se manifeste é preciso que ela esteja alinhada com a vontade! A Vontade de aprender só acontece quando sentimos liberdade e permissão para destrinchar caminhos, superar barreiras e desvendar mistérios. O mestre, pode ser quem for, um professor, uma mãe, um pai, e até uma criança que ensina o tio a usar um recuso digital.  Não importa a idade! Aquele que estiver por algum instante no lugar de mestre, deve abandonar a postura do mestre explicador ou sábio e permitir que a sua vontade de ensinar esteja alinhada com a vontade de descobrir juntos, de mediar, conduzir ao caminho filosófico de negar ou questionar, ou afirmar por meio das descobertas.

O pensamento crítico, é a capacidade e a disposição de avaliar situações e proposições, desenvolver esse pensamento nas crianças e jovens só será possível se todos os envolvidos no processo educativo estiverem movidos por boas razões.  Estudos contemporâneos na área da psicologia, tem questionado a ideia de que as pessoas sejam capazes de pensar criticamente pois indicam que, as pessoas ao invés de se guiarem por razões,  as usam primordialmente para poder justificar suas pré-concepções já estabelecidas! Cuidado com seu mestre explicador! Ele sempre aparece em algum momento nos impedindo de enxergar a inteligência do outro!

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