Para educar com empatia.  Infância: uma construção ao longo dos tempos.

Para educar com empatia. Infância: uma construção ao longo dos tempos.

Escrevo este texto no domingo de Páscoa porque esta data me toca de forma muito significativa, acredito na mensagem da ressurreição como uma oportunidade contínua de nos revermos e desejo imensamente que meus próximos textos sejam lidos por pessoas, pais e mães, famílias inteiras que necessitam ressuscitar em si mesmos novas práticas parentais, novas formas mais amorosas e empáticas de educar seus filhos. Você pode achar estrando o que vou te contar aqui, mas nem sempre a maternidade foi vista e vivenciada como entendemos na atualidade. As concepções de amor maternal e cuidados fez parte de toda uma construção social o que nos revela que esse amor nem sempre foi tão evidente e  caracterizadas por sentimentos de ternura e intimidade entre mãe e bebê. Cada época e cada lugar dispensou um olhar e um tratamento diferente sobre a criança. A própria concepção de família também mudou muito ao longo da história. Estas mudanças sobre a visão da criança e da família também sofreram alterações diretamente relacionadas às mudanças de comportamento social, econômico e político. Filósofos da educação, historiadores e cientistas sociais como Philippe Ariès, Mary Del Priore, entre outros, teorizam a história social da infância e entre todas as suas análises verifica-se que o conceito de infância é algo historicamente criado.

Ao longo história da humanidade a criança passou muito mais tempo  sendo vista como um ser que logo deveria fazer tudo o que um adulto faz do que como um ser a ser desenvolvido e com etapas claras de necessidades e aprendizagem. Ricos e pobres abandonavam seus filhos na Roma antiga por causas variadas: enjeitavam-se ou afogavam-se as crianças malformadas, os pobres, por não terem condições de criar os filhos, expunham-nos, esperando que um benfeitor recolhesse o infeliz bebê, os ricos, ou porque tinham dúvidas sobre a fidelidade de suas esposas ou porque já teriam tomado decisões sobre a distribuição de seus bens entre os herdeiros já existentes. Na Antiguidade, grega e romana, o infanticídio era praticado. Até o século XVII a sociedade não dava muita atenção às crianças. Devido às más condições sanitárias, a mortalidade infantil alcançava níveis alarmantes, por isso a criança era vista como um ser ao qual não se podia apegar, pois a qualquer momento ela poderia deixar de existir. Muitas não conseguiam ultrapassar a primeira infância. O índice de natalidade também era alto, o que ocasionava uma espécie de substituição das crianças mortas. A perda era vista como algo natural e que não merecia ser lamentada por muito tempo, como pode ser constatado no comentário de Philippe Áries na obra  História Social da Criança e da Família, “ …as pessoas não podiam se apegar muito a algo que era considerado uma perda eventual…” até o século XVII, a socialização da criança e a transmissão de valores e de conhecimentos não eram assegurados pelas famílias. A criança era afastada cedo de seus pais e passava a conviver com outros adultos, ajudando-os em suas tarefas. A partir daí, não se distinguia mais desses. Nesse contato, a criança passava dessa fase direto para a vida adulta

Hoje temos uma naturalização de conceitos e práticas relacionadas à maternidade e aos cuidados maternos, associando-se sua construção social às modificações pelas quais a família tem passado, na Europa e no Brasil e o que nos parece no final das contas é que toda criança é amada e protegida, mas essa é uma realidade de alguns poucos esclarecidos. O que vemos acontecendo ainda em muitos lares é uma educação altamente agressiva, não protetiva, em que crianças apanham pelo simples fato de que seus pais não sabem controlar suas próprias emoções e acreditam que o caminho da força física e do grito geram algum efeito corretivo. O que vemos é o contrário, tanto é assim que se surtisse algum efeito esses pais não teriam que continuar gritando e batendo em seus filhos. Essa é uma triste realidade que tem solução e hoje começo nesta ressureição de Páscoa uma série de textos que virão pela frente para quem sabe acender uma luz, uma centelha de amor e empatia sobre os caminhos  promissores que uma educação positiva pode gerar pelo futuro de toda uma nação, quem saber até de todo um planeta necessitado de empatia. A aceitação o acolhimento e a intimidade com os filhos serão a tônica dos nossos próximos encontros neste blog. Até breve!

 

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