Tempo Rei. ...de como tudo está aí disponível para você prestar mais atenção.

Tempo Rei. ...de como tudo está aí disponível para você prestar mais atenção.

No carro, atrasada para a aula de pilates em busca de bem estar, de repente a música que tocava no rádio, tão conhecida e ouvida tantas vezes, fez mais sentido do que nunca! Uma estrofe bateu como sino nos meus ouvidos, parecia ser a primeira vez que a reconhecia.

[...] Mães zelosas, pais corujas
Vejam como as águas de repente ficam sujas
Não se iludam, não me iludo
Tudo agora mesmo pode estar por um segundo

Tempo rei, ó, tempo rei, ó, tempo rei
Transformai as velhas formas do viver[...]

Como eu pude nunca ter relacionado esta música de Gilberto Gil com a forma como nós vivemos a vida e como educamos nossos filhos? Tudo nela grita sobre esta relação entre pais e filhos, entre vida e transformação.

Como as águas de repente ficam turvas? Como nossos filhos que pareciam estar ali sob nossos tetos de repente podem não estar mais? Como aquele filho que você acredita piamente conhecer, te surpreende de todas as formas?

Muitas vezes, como educadora, me fiz um questionamento cruel quando atendia pais que passavam por problemas com seus filhos. Em seus relatos, diziam não entender de onde vinham seus comportamentos negativos, às vezes agressivos, outras, indiferentes ou demasiadamente tristes e angustiados. Inevitavelmente eu pensava: Está exatamente aí o problema! Você não sabe de onde vem, porque ele parece ter caído de paraquedas na sua casa!

Vejo dias e relações sendo vividas em um cotidiano automático, entediante e distraído. Você tem “olhos de ver e ouvidos de ouvir? Este ver e ouvir não está na conversa com hora marcada, nem no tom solene e hierárquico entre pais e filhos. Está na oportunidade de viver a vida mais em slow motion.  Na intimidade não forçada entre pais e filhos, na gargalhada fora de hora, nas trocas de olhares, na cumplicidade que surge quando queremos de verdade saber quem é meu filho(a)?

Eu quero prestar atenção no leite que preparo para meus pequenos no café da manhã e na retribuição de seus olhares. Quero estar atenta nos dias silenciosos que pairam sobre a casa quando eles estão distantes demais. Quero quebrar o silencio com uma proposta para caminhar pelo bairro e curtir o por do sol. Vê-los emburrados com este convite mas irem mesmo assim e em seguida ver a preguiça se desfazer e se transformar em um delicioso momento em família.

Nós como pais zelosos devemos transformar as velhas formas do viver, estar ali atentos, mas principalmente dispostos a viver tudo o que ainda eles não viveram! Um banho de chuva pode ter se tornado incômodo para você, mas para as crianças isto ainda não perdeu a graça. Vejo pais ignorando a construção de um projeto escolar de seus filhos, deixando de participar de momentos marcantes de suas vidas, ignorando as sutilezas que poderiam tornar mais delicados e belos os nossos dias! Você já pode não ver mais graça nestes detalhes, mas depois não se assuste se as águas de repente ficarem sujas!

 

 

 

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