Brasil = país do analfabetismo financeiro

Brasil = país do analfabetismo financeiro

A realidade brasileira:

Segundo dados do Banco Mundial, apenas 3,64% da população economiza pensando na aposentadoria. Este configura um dos dados mais baixos do mundo, visto que na América Latina a média é de 10,6% e no México e África do Sul (outros países emergentes) os percentuais são de 20,85% e 15,93%, respectivamente.  Ademais, de acordo com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) apenas 28% dos brasileiros declararam ter poupado algum dinheiro no último ano, sendo o 14º pior índice do mundo.  Tais dados refletem uma realidade presente no Brasil: a situação de analfabetismo financeiro. Isso é reflexo de uma má educação básica, reprodução de estereótipos e falta de informação, além de ser parte representativa da história do país.

Apesar de uma lei que inclui a presença da educação financeira nas aulas de matemática ter sido projeto em 2009, essa não é a realidade encontrada nas escolas brasileiras. Além disso, ainda há deficiências no ensino de questões mais básicas, como a interpretação de texto e a leitura, que influenciam na tomada de decisões diárias. Para muitos, investir e poupar são práticas vistas como uma realidade apenas possível para pessoas que desfrutam de maior poder aquisitivo. Isso ocorre, principalmente, devido à falta de informações sobre investimentos com linguagem acessível para todo o público - pois muitos termos são em inglês - e também devido a não disseminação da ideia de que todos podem investir, mesmo com pouco dinheiro.

Historicamente, o Brasil passou por muitas mudanças econômicas, principalmente com a recorrente troca de moedas no século passado e a constante alteração de preços, o que criou um sentimento de incerteza não abandonado pela população até hoje. Com os habituais cenários encontrados de altas taxas de inflação, torna-se mais vantajoso poupar do que comprar, no entanto, a estimulação do consumo é a via de regra na sociedade brasileira e leva à acumulação de dívidas por parte dos indivíduos.

Todos esses aspectos formam a explicação para que 61 milhões de pessoas tenham começado o ano de 2020 com nome negativo no SPC, segundo levantamento da própria entidade. Tal cenário foi ainda mais agravado com a atual pandemia mundial causada pela Covid-19 em que os impactos financeiros foram severos para muitos. Dessa forma, o analfabetismo financeiro é realidade presente na sociedade brasileira, podendo ser revertido a partir de uma eficaz educação financeira. Mas, afinal, o que é a educação financeira?


 

A educação financeira:

Educação financeira não é apenas aprender a poupar e investir, está ligada a disseminação de formas de se preparar hoje para alcançar uma melhor qualidade de vida no futuro. É entender e saber lidar com o dinheiro, oportunidades e riscos, além de adotar as melhores estratégias para alcançar os melhores fins. 

Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) a educação financeira é: “o processo mediante o qual os indivíduos e as sociedades melhoram a sua compreensão em relação aos conceitos e produtos financeiros, de maneira que, com informação, formação e orientação, possam desenvolver os valores e as competências necessários para se tornarem mais conscientes das oportunidades e riscos neles envolvidos e, então, poderem fazer escolhas bem informadas, saber onde procurar ajuda e adotar outras ações que melhorem o seu bem-estar. Assim, podem contribuir de modo mais consistente para a formação de indivíduos e sociedades responsáveis, comprometidos com o futuro”.

Esse ensino permite que as pessoas evitem dívidas desnecessárias, alcancem a sonhada independência financeira e tenham segurança e estabilidade. Está associado com a organização das finanças pessoais e a tomada de decisões sobre créditos e investimentos. Utilizando a educação financeira as pessoas podem acabar com dívidas, elevar seu padrão de vida, controlar gastos, saber a melhor forma de investir para si e fazer planejamentos futuros.

Possibilita que os indivíduos tenham consciência sobre suas escolhas e gastos perante as inúmeras possibilidades de consumo que o mercado oferece. Além disso, adotar decisões sustentáveis sobre investimentos, poupanças, gastos e consumo, permite não só uma melhor vida financeira de forma individual, mas também impacta beneficamente o futuro do país. Desse modo, a educação financeira traz uma gama de vantagens para a sociedade, sendo importante sua adoção desde a formação dos indivíduos na infância.

 

Educação financeira nas escolas:

Em 2020 a educação financeira passou a integrar a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), sendo um item obrigatório da grade curricular desde a educação infantil até o ensino médio. No entanto, não necessariamente deve ser uma matéria a parte, podendo ser abordada de forma transversal em matérias como matemática, história e sociologia, por exemplo. Essa mudança permitirá o ensino não só do sistema monetário brasileiro e de matemática financeira, mas também de controle de gastos, consumismo, disciplina, conceitos econômicos básicos, organização e planejamento. As crianças poderão adquirir o hábito de poupar e se tornarão adultos mais conscientes. No entanto, levar a educação financeira para a escola conta com desafios como a capacitação de professores e a oferta de materiais didáticos, o que é o maior foco atual das escolas e municípios.

A longo prazo, a formação de indivíduos mais responsáveis financeiramente poderá proporcionar um maior cuidado com o meio ambiente, escolhas conscientes de consumo e diminuição da inadimplência. Mas, sobretudo, permitirá que o nível de qualidade de vida aumente, que o empreendedorismo seja incentivado e que a sociedade cobre e avalie seus representantes com maior propriedade. Finlândia e Canadá são exemplos de países que possuem a educação financeira como prioridade e não por acaso são também alguns dos territórios com índices mais elevados de desenvolvimento humano, sendo capazes de prezar por uma sociedade mais justa e igualitária.

 

Texto escrito por Alícia de Brito Martins, estudante de Economia Empresarial e Controladoria na FEA-RP/USP.

Imagem: Canva

Referências:

Conceito de Educação Financeira no Brasil. Vida e dinheiro, 2017. Disponível em:<https://www.vidaedinheiro.gov.br/educacao-financeira-no-brasil/#:~:text=Segundo%20a%20OCDE%20(2005)%2C,necess%C3%A1rios%20para%20se%20tornarem%20mais.>. Acesso em: 17 de jul. de 2021.

Educação financeira chega ao ensino infantil e fundamental em 2020. Agência Brasil, 2019. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2019-12/educacao-financeira-chega-ao-ensino-infantil-e-fundamental-em-2020>. Acesso em: 17 de jul. de 2021.

Por que o Brasil é um país de analfabetos financeiros- e como isso atrapalha a nossa vida. Gazeta do povo, 2020. Disponível em:<https://www.gazetadopovo.com.br/economia/brasil-pais-dos-analfabetos-financeiros/>. Acesso em: 17 de jul. de 2021.

A importância da educação financeira na formação dos estudantes. Brasil Escola. Disponível em: <https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/economia-financas/a-importancia-da-educacao-financeira-na-formacao-dos-estudantes.htm>. Acesso em: 17 de jul. de 2021.

A Importância Da Educação Financeira No Cenário Brasileiro. Rede Jornal Contábil, 2021. Disponível em: <https://www.jornalcontabil.com.br/a-importancia-da-educacao-financeira-no-cenario-brasileiro/>. Acesso em: 17 de jul. de 2021.

Educação Financeira – qual a importância de saber sobre finanças. PraValer, 2020. Disponível em: <https://www.pravaler.com.br/educacao-financeira-qual-a-importancia-de-saber-sobre-financas/>. Acesso em: 17 de jul. de 2021.

Educação financeira Infantil: como o Brasil está frente a outros países?. Invest News, 2021. Disponível em: <https://investnews.com.br/cafeina/educacao-financeira-nas-escolas-como-o-brasil-esta-frente-a-outros-paises/>. Acesso em: 17 de jul. de 2021.

 



 

 

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