Qual a importância da educação sexual para os jovens?

Qual a importância da educação sexual para os jovens?

Educação Sexual: O começo dessa história

Quando os primeiros trabalhos sobre educação sexual vieram à tona, a biologia e ciência da época acreditavam que conseguiam dar conta sobre o que era a sexualidade em si. Hoje em dia, percebemos que apenas o entendimento biológico não é suficiente para a compreensão total acerca do assunto, gerando muitas dúvidas para o indivíduo. O entendimento sobre o assunto passou a atingir outros campos da ciência e com isso, aspectos socioculturais, históricos e emocionais começaram a fazer parte desse cenário. Segundo Marcos Ribeiro e Wagner Reis, da Revista Brasileira de Sexualidade Humana: 

         " O que se acreditava no passado, de que a sociedade mostrava-se contrária a inclusão da educação sexual no espaço escolar, as experiências de professores e os projetos realizados em todo país, têm demonstrado justamente o contrário. A cada dia, torna-se fundamental que a escola abra suas portas para essa discussão. Não dá para realizar o pedido, escondido nas entrelinhas, de que os alunos deixem sua sexualidade do lado de fora.

A sexualidade está presente em todas as faixas etárias. Normalmente, o que acontece é a negação por parte da sociedade, e, por não saber como lidar, dos professores e profissionais de saúde. A escola, querendo ou não, depara-se  com  situações  nas  quais  é  chamada  a  intervir.  Seja  numa  brincadeira entre  os  colegas  ou  nas  inscrições que  ficam  pelas  portas  e  paredes  dos banheiros, a sexualidade se apresenta no cotidiano da escola. E, dependendo de  como  é  a  sua  visão  diante  desse  assunto,  o  trabalho  poderá  vir  numa abordagem mais conservadora ou progressista. "                                                                                                             

Quando pensamos no ambiente escolar, Marcos e Wagner dizem que a escola fundamenta a ideia que a família deve ser responsável por esses ensinamentos:                 

        "A escola pode, então, a partir daí, desenvolver programas que, integrado ao projeto pedagógico e/ou às ações desenvolvidas ou disciplinas curriculares, contemple  as  questões  que  passam  pelo  prazer  e  pensar,  respeito  por  si  e pelo  outro,  responsabilidade  e  prevenção,  desenvolvimento  de  uma  visão crítica  e  reflexiva  sobre  o  corpo  e  a  sexualidade,  exercendo,  assim,  a  sua cidadania no sentido mais pleno. Podemos dizer, então, por fim, que a implantação de projetos de educação sexual  contribui  para  que  a  criança  ou  o  jovem  e  adulto  de  amanhã tenha uma vida mais integrada, saudável, com uma melhor autoestima e maior conhecimento do próprio corpo."

A educação sexual tornou-se um dos tópicos mais presentes no contexto social brasileiro. Os jovens e adolescentes de escolas públicas sofrem na “pele” a falta de informação acerca dessa temática, infelizmente, ainda é considerada um tabu, por não ser um assunto fácil de ser discutido. Essa questão começa em casa, com pais que têm dificuldade de falar sobre esse assunto com seus filhos. O papel da escola nesse quesito é de extrema importância, pois, além da educação formal, a escola consegue mostrar aos adolescentes como eles vivenciarão a vida fora do ambiente escolar, como uma forma preventiva.

Ademais, quando a escola trata apenas das IST's (Infecções Sexualmente Transmissíveis) como clamídia, herpes, HIV, HPV, cancro mole, sífilis e gonorreia, ela esquece de tratar outros pontos muito importantes sobre essa educação como a de  reconhecer e evitar situações sociais de risco. 

Em um país grande como o nosso, em dimensões territoriais, o contato interestadual é prejudicado e as áreas menos desenvolvidas são as principais fontes do desconhecimento acerca dessa problemática.

Segundo o G1, no Brasil, existem municípios mais distantes das grandes capitais em que a menstruação, um processo que ocorre em todas as mulheres, ainda é considerada um tabu. Mas afinal, o que significa tabu?

O significado de tabu, segundo o Dicionário Online, se refere a uma proibição da prática de qualquer atividade social que seja moral, religiosa ou culturalmente reprovável, ou seja, algo ou alguém que não se pode tocar, fazer uso, dizer, comentar por crença, religião, fé, pudor, respeito, etc.

 As dúvidas geradas sobre o seu próprio corpo fomentam uma ideia onde a própria pessoa não consegue identificar quando seu corpo está bem consigo mesmo ou não, a educação sexual consegue explicar isso e mostrar os motivos disso acontecer. Além disso, quando entramos mais afundo nesse assunto, percebemos que os jovens tem relações sexuais cada vez mais precoce e com isso, o número de jovens que se contaminam com alguma infecção sexualmente transmissíveis só aumenta.

Na última PNSE (Pesquisa Nacional de Saúde Escolar), 27% dos alunos do 9º ano das escolas públicas já tiveram sua primeira relação sexual e em 6 anos, o número de jovens que se contaminou com alguma IST foi de 50%.

Outro problema que aparece constantemente em nosso ambiente social é o abuso sexual que ocorre na própria casa da vítima. Normalmente, esse abuso é cometido pelos próprios familiares que utilizam de sua autoridade para cometer tal crime. Segundo o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, de 2011 para cá, o Brasil teve um aumento de 83% nas notificações de violência sexual infantil dentro das próprias residências das vítimas. 

Para a ginecologista Drª Albertina Duarte Takiuti, falar sobre educação sexual é um papel importante que a família, a escola e o Governo devem adotar. Hoje em dia, os jovens têm colocado esse assunto em pauta mais frequentemente, o problema é que eles não são especialistas e a maioria tem medo de falar com um. Já para Itamar Gonçalves, membro da ONG Childhood Brasil, que trabalha em parceria com o Governo para promover o empenho dessas instituições públicas contra a violência sexual de jovens e crianças, em uma entrevista para o G1 diz: “Para mudar este cenário é importante criar ambientes que sejam acolhedores e inclusivos nos espaços frequentados pelas crianças e adolescentes, nas famílias, escola, igrejas... Um trabalho de prevenção se faz com informação, especialmente sobre o funcionamento do corpo, a construção da sexualidade, visando empoderar nossas crianças.”

O problema se agrava ainda mais quando o Ministério da Educação diz que a educação básica brasileira é dividida em três diretrizes: A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, as Diretrizes Curriculares para a Educação Básica e a Base Nacional Comum Curricular. 

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional é a principal lei que aborda todos os assuntos estudados nas escolas, a educação sexual acaba não sendo incluída nessas diretrizes. As Diretrizes Curriculares para a Educação Básica tratam de todas as normas obrigatórias que devem estar presentes no planejamento curricular das escolas e dos sistemas de ensino. E a Base Nacional Comum Curricular é um documento, na qual apresenta todas as propostas pedagógicas para o ensino infantil, fundamental e médio.

O Governo possui outros tipos de divulgar informações como: as Cadernetas de Saúde do Adolescente, os Programas de Saúde nas Escolas e os canais de denúncia. As Cadernetas de Saúde do Adolescente são instrumentos feitos pelo Ministério da Saúde e que abordam informações sobre como evitar doenças, mudanças no corpo, saúde sexual, reprodutiva, bucal e de alimentação. Apesar dessas cadernetas incluírem a temática de saúde sexual, a informação que chega aos jovens ainda é debilitada nesse quesito.

O Programa de Saúde nas Escolas (PSE), segundo o Ministério da Educação, visa a integração e articulação permanente da educação e da saúde, proporcionando melhoria da qualidade de vida da população brasileira. O PSE vem com o objetivo de contribuir com a formação integral dos estudantes da educação básica, por meio de ações de prevenção e atenção à saúde, reconhecendo a vulnerabilidade que impede o desenvolvimento do indivíduo. 

O Disque Denúncia é um canal do governo em que recebe, analisa e encaminha denúncias de violação dos direitos humanos. O Disque Denúncia 100 é um canal totalmente voltado para denúncias de abuso de crianças e adolescentes, pessoas idosas e com algum tipo de deficiência.

 

Qual a importância do Estado na educação sexual?

Através das problemáticas apresentadas, o papel do estado influencia e agrega muito valor para trazer esses conhecimentos para a sociedade. O papel do Estado é garantir o direito à educação para os jovens, além disso auxiliar nas práticas de ensino, garantindo que todos tenham o direito ao ensino. Entretanto, como já discutido nos parágrafos anteriores, o Estado, não aborda de forma eficiente sobre a educação sexual nas escolas, e isso acaba prejudicando muitos jovens que não recebem esse conhecimento. 

A partir daí, podemos citar muitas práticas que o Governo pode adotar para democratizar essa informação como a divulgação de campanhas acerca do tema, inclusão deste estudo no ambiente escolar, promoção de práticas de acolhimento e de prevenção para jovens e adolescentes que sofreram tal tipo de abuso; e a estrutura mais definida das práticas que outros países adotam acerca do tema.

Nossa país tem grande capacidade de desenvolvimento, mas falta detalhamento nas leis que abordam parte do assunto.

 

Conclusão

Diante do conteúdo discutido, fica evidente a importância desse assunto e do poder do Governo para nossa sociedade. A educação sexual precisa estar mais presente no nosso dia a dia não apenas para conhecimento da sexualidade, mas também para o conhecimento dos direitos de cada jovem, criança e adolescente. Conversar sobre sexo com nossos filhos pode ajudar a prevenir a ocorrência desses crimes. Além disso, utilizar os canais do Governo para realizar denúncias pode ajudar crianças que sofrem na mão de um mesmo criminoso. Ninguém pode tocar em seu corpo sem seu consentimento, isso é uma necessidade que todos devem estar cientes para contribuir no combate a violência, seja ela sexual, física, psicológica ou social.

 

Texto escrito por Leonardo Pereira Santos e Silva, estudante de Administração na FEA-RP/USP.

Imagem: Freepik

Referências: 

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SCARDOVELLI, Eliane. Educação sexual ainda é tabu no Brasil e adolescentes sofrem com a falta de informação. G1. 27 jun. 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/profissao-reporter/noticia/2019/06/27/educacao-sexual-ainda-e-tabu-no-brasil-e-adolescentes-sofrem-com-a-falta-de-informacao.ghtml. Acesso em: 29 jun. 2021.

COELHO, Tatiana. Maioria dos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes ocorre em casa; notificações aumentaram 83%. G1. São Paulo, 29 jun. 2018. Disponível em: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/maioria-dos-casos-de-violencia-sexual-contra-criancas-e-adolescentes-ocorre-em-casa-notificacao-aumentou-83.ghtml. Acesso em: 29 jun. 2021.

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