
A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA E DA CANÇÃO NA APRENDIZAGEM DE UMA LÍNGUA--EDMILSON JOSÉ DE SÁ
A Importância da Música e da Canção na Aprendizagem de uma Língua
Autor: Edmilson José de Sá
Muitos de nós temos experimentado com espanto como os estudantes aprendem músicas tão rapidamente. Também é uma experiência comum esquecer quase tudo que aprendemos em outra língua exceto as poucas canções que aprendemos. Por uma variedade de razões, as canções ficam em nossas mentes e se tornam parte de nós, e se colocam facilmente à exploração em sala de aula.
Embora a tecnologia moderna tenha universalizado o acesso à canção, talvez a canção realmente tenha precedido e auxiliado no desenvolvimento da fala do homo sapiens (LIVINGSTONE, 1973). Se nós pensarmos nisso por um instante, é mais fácil colocar entonação no “la, la, la, la” do que fazer distinções mais afinadas requeridas pela língua, por exemplo, cantar com vocalizações é significantemente mais fácil que a fala. Mas o que é mais espantoso é que também parece ser mais fácil cantar numa língua do que falá-la.
A canção também parece preceder e auxiliar no desenvolvimento da língua em crianças mais jovens (MURPHEY, 1990a). Um gama crescente de pesquisas indica que o balbuciar musical produzido por crianças e retornado aos pais é extremamente importante no desenvolvimento da língua em crianças mais jovens.
Temos freqüentemente chamado de “maternês adolescente” (MURPHEY AND ALBER, 1985). Maternês é uma língua altamente afetiva e musical que os adultos usam com crianças. Quando as crianças crescem, conseguem muito menos que isso. Na adolescência, elas parecem ser adultas e realizam muitas mudanças que parecem reduzir a quantia da fala do “maternês” afetivo que recebem. As canções podem, em certa extensão, mudar isto, preenchendo uma necessidade que não apenas os adolescentes têm, mas que todos nós temos por toda nossa vida. Esta atenção afetiva, que é eventualmente modificada em parte pelos apaixonados (com o “amares”), pode ser necessitada por muitos jovens adolescentes enquanto seus sistemas emocionais estão começando a florescer. Sua fascinação pela música popular pode ser vista com originária de suas necessidades e desejos por tal atenção.1
Atualmente, é difícil escapar que a música e a canção ocupam cada vez mais do mundo que nos cerca: em salas de operação (para transplantes de coração e nascimentos), restaurantes, shoppings, em eventos esportivos, em nossos carros e literalmente em toda parte por aqueles que se apropriam de um walkman. Parece que o único lugar em que as músicas e canções demoram a aparecer é nas escolas.
O fenômeno “A música ficou na minha cabeça”2 também parece reforçar a idéia de que as canções funcionam em nossa memória a curto e a longo prazo. (MURPHEY, 1990b)
Ao se cantar uma canção, remetemos ao que Piaget (1923) descreveu como linguagem egocêntrica, na qual as crianças conversam, com um pequeno interesse para um destinatário. Elas simplesmente apreciam ouvi-las repetir. Pode ser que a necessidade pela linguagem egocêntrica realmente nunca nos deixe e é preenchida particularmente pela música. Krashen (1985) sugere que esta repetição involuntária pode ser a manifestação do “processo de aquisição da língua de Chomsky”. Parece que nosso cérebro tem uma condição natural a repetir o que ouvimos em nosso ambiente para nos habilitar à compreensão. As canções podem fortemente ativar o mecanismo de repetição do processo de aquisição da língua. Certamente deve acontecer isso com as crianças, que aprendem canções quase sem esforço.
As canções, em geral, também usam uma simples linguagem conversacional, com bastante repetição, que é justamente o que muitos professores de línguas procuram em textos simples. O fato de elas serem afetivas faz delas, muitas vezes, mais motivantes que outros textos. Embora geralmente simples, algumas canções podem ser bastante complexas sintática, lexical e poeticamente, e podem ser analisadas da mesma maneira que outros aspectos literários.
As canções podem ser apropriadamente pelos ouvintes por seus próprios propósitos, largamente porque muitas canções populares, e provavelmente de outros tipos, não têm referências precisas de tempo, raça ou local. Para aqueles que as consideram relevantes, as canções acontecem em toda parte e a todo o momento em que são ouvidas e são, consciente ou subconscientemente, sobre as pessoas em sua própria vida.
Mais importante ainda, talvez, é que as canções são relaxantes, segundo Murphey (1992). Elas proporcionam variedade e diversão, e encorajam a harmonia dentro de si mesmo e dentro de um grupo. Pouco se imagina que as canções são importantes ferramentas que sustentam culturas, religiões, patriotismo e, até, mesmo revoluções.
Em termos práticos, para professores de idiomas, as canções são curtas, com textos auto-receptivos, passíveis de gravações e filmagens que são fáceis de serem. manuseadas numa aula.
Os conceitos dos professores.
Numa pesquisa realizada na Inglaterra, quando foi questionado a professores sobre a utilização de músicas, as respostas mais freqüentes foram as seguintes:
a)Perturba as classes vizinhas
b)Alguns estudantes ficam muito agitados
c)Os estudantes concordam com a utilização de canções e têm gostos variados
d)As canções populares têm vocabulário pobre – muita gíria e péssima gramática.
e)É difícil encontrar letras das músicas.
f)Os estudantes só querem ouvir, não querem analisar.
g)Os professores não gostam de cantar
h)Os estudantes não cantam
Segundo Murphey (op cit), alguns aspectos podem ser analisados numa canção para torná-la útil em sala de aula.
a)Estudar gramática
b)Praticar seletiva compreensão auditiva
c)Ler artigos e canções para propósitos lingüísticos
d)Escrever diálogos usando as palavras de uma canção.
e)Ensinar vocabulário e a cultura do país
f)Modificar a letra, de modo a transportar uma situação passada numa situação atual, etc...
Palavras finais...
Manter o estudante como o centro das atenções significa que a canção é basicamente usada como um catalisador para propor aos estudantes um recurso que usufruam numa maneira pessoalmente relevante. As canções são usadas para agir no interior do aluno de modo a externar sua linguagem.
Apropriando-nos de Stevick (1971), consideramos que as canções podem atuar como eixos de motivação à aprendizagem. O eixo horizontal expressa o aspecto externo das experiências dos estudantes: suas reações com outras pessoas, sua habilidade em conversar sobre experiências passadas, para interagir com garçons, motoristas de táxis e amigos, e planejar o futuro. Este tipo de perspectiva de realidade pode, em longo prazo, ser necessário para a motivação, mas não é suficiente sozinha. O eixo vertical se estende pela realidade que é interna ao aprendiz: seus sentimentos, suas ansiedades e o retrato de si mesmo.
1- Desnecessário dizer que em toda parte em cada adulto, ainda paira um adolescente. (MURPHEY, 1992)
2- O eco em nossas mentes da última canção ouvida após sairmos do carro, de um restaurante, etc., e que pode ser tanto apreciável quanto desestressante.
Referências bibliográficas
KRASHEN, S.D. 1985. The Input Hypothesis. New York: Pergamon Press.
LIVINGSTONE, Frank. 1973. Did the Australopithecines Sing? Current Anthropology February- April, Vol.14(1-2):25-29.
MURPHEY, T. & ALBER,J.L. 1985. A pop song register: the motherese of adolescence as affective foreigner talk, with, TESOL Quarterly 19 (4)793-795
______________ 1990a. Song and music in language learning. Bern, Switzerland: Peter Lang Verlag.
______________ 1990b. Two class interaction: An example, “juggling.” In Quality Interaction (photocopied document at the University of Neuchâtel, Switzerland), ed. Tim Murphey. Reprinted in ETAS NL, 7, 4, pp. 48-49, and Practical English Teaching, Dec. 1991, p. 1
______________ 1992. Music & Song. Oxford: Oxford University Press
PIAGET, J. 1956 [1923] Le langage et la pensée chez l’enfant. Neuchâtel: Delachaux et Niestlé.
STEVICK, E.W., 1971. Adapting and Writing Language Lessons. Foreign Service Institute.
Edmilson José de Sá - Mestre em Lingüística pela UFPE, professor de Português e Inglês em escola pública e professor de Literatura Língua Inglesa e Norte-Americana e Prática de Ensino no Centro de Ensino Superior de Arcoverde, em Pernambuco.