Como lidar com alguém em processo de luto?

Como lidar com alguém em processo de luto?

Hoje, dia 2 de Novembro, é considerado dia de Finados, data em que os falecidos são honrados e lembrados dentro da lógica cristã. Pensando neste dia, resolvi escrever sobre o luto, mais especificamente sobre como se relacionar com alguém que está em processo de luto.  

O luto é um processo normal de elaboração diante de alguma perda ou rompimento de vínculo, que pode ser a morte de um familiar querido, a perda de um emprego ou de um órgão ou até mesmo de uma posição social. Vivemos diariamente perdas reais e simbólicas, inclusive quando passamos de uma fase para outra, pois uma necessariamente precisa ser perdida para outra ser alcançada. No entanto, o luto da morte de alguém costuma ficar em maior evidência e provoca sentimentos muitas vezes difíceis de serem elaborados tanto para quem está diretamente relacionado com a pessoa que faleceu, quanto para quem está apenas relativamente próximo.

Percebo em muitas pessoas o receio de não saber o que falar quando está em contato com alguém que está vivenciando alguma perda e, por isso, optam por se afastar da pessoa que está vivendo o luto. No entanto, o que esta pessoa mais precisa nesse momento é da presença e força de pessoas queridas por perto, mesmo que no momento não consiga demonstrar o quanto isso é importante. Imagina como deve ser difícil perder alguém muito querido e ainda não ter com quem contar? Isso só amplia o sentimento de solidão e desamparo.

Portanto, precisamos falar mais sobre o luto, pois nossa sociedade tem focado tanto na busca da felicidade e do prazer, que pouco se fala sobre a morte. Uma das consequências da tentativa de exclusão deste tema em nossas vidas é não saber como reagir quando nos deparamos com uma pessoa enlutada, preferindo muitas vezes atravessar a rua e fingir que não vimos ou às vezes proferindo clichês que ao invés de ajudar podem ter o efeito contrário.

Nestes momentos de intensa dor, o silêncio pode dizer mais que muitas palavras. Sei que é difícil estar ao lado de quem está sofrendo e suportar a angústia e a dor calado, mas convenhamos que muitas vezes nossas falas são mais para aliviar nossa própria angústia do que para aplacar a dor do enlutado. Há algumas frases que precisamos ao máximo evitar, pois não produzem alívio nenhum e às vezes até fazem a dor da pessoa se intensificar.   

Algumas das inúmeras  falas são:  "Pelo menos você tem outros filhos" ; "O tempo vai curar"; "Não chora, não fica assim".

Sei que em algum momento todos nós já falamos alguma destas frases e sei também que são proferidas com a melhor das intenções. No entanto, vamos nos colocar no lugar da pessoa enlutada, afinal quem nunca sofreu alguma perda, não é mesmo? Imagine você, no auge de sua dor, ouvindo de alguém que não é para chorar? Como é possível tal feito? E além disso, chorar e expressar a dor da perda não é só possível, mas desejável, pois um luto "bem vivido" é muito importante para que possa ser elaborado. E em quanto tempo um luto é elaborado? Será que dizer que o tempo irá curar é a melhor solução?

Precisamos lembrar que o tempo para lidar com a perda é muito subjetivo e podem ter pessoas que vão levar uma eternidade para se recuperarem, assim como outras, por serem mais resilientes talvez, podem sair deste processo um pouco mais rápido. Mas o tempo exato ninguém consegue garantir.  A pessoa que está de luto, ao ouvir sobre o tempo, pode ter a impressão de que precisa se recuperar logo, em um tempo quase que já pré determinado.

Em relação à perda de filhos, esta é uma das perdas mais difíceis de ser elaborada. Pensa como seria ouvir de alguém que "pelo menos você tem outros filhos"? Parece absurdo uma fala dessas, não é minha gente? Mas elas acabam sendo proferidas muitas vezes. Precisamos tomar muito cuidado com o que vamos falar para alguém que já está vivendo uma dor muito grande, na verdade incomensurável.

Você deve estar se perguntando: O que fazer então? Pois bem, muitas das vezes o melhor a ser feito é apenas estar ao lado da pessoa enlutada, disponível para acolhê-la e ouvi-la, caso ela queira conversar. Neste momento temos que tomar muito cuidado para não sermos mais uma fonte de invasão e dor. Portanto, se não souber o que falar, fique em silêncio, não pergunte detalhes da morte, não force uma conversa se a pessoa não estiver preparada. Ou seja, nestes momentos 'menos é mais', um gesto de cuidado e preocupação vale mais que mil palavras e se quiser dizer algo, diga que sente muito pela perda da pessoa e que está à disposição para o que precisar e, se disser, realmente esteja.

Espero que tenha ajudado a refletir um pouco sobre este processo tão delicado e doloroso.

Se tiverem dúvidas ou comentários, deixem aqui!

Até o próximo post!

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