Dia COM as crianças!

Dia COM as crianças!

Hoje, 12 de Outubro, é considerado o Dia das Crianças em nossa sociedade. Quando esta data se aproxima muito se fala sobre o que comprar para os filhos, afilhados ou outras crianças da família, onde levá-los para passear e para isso há muitos eventos que se espalham pelas cidades a fim de oferecer entretenimento e diversão para as crianças e suas famílias. O que me pergunto é: onde estão essas crianças ao longo de todos os outros dias do ano? Será que dá para suprir a falta dos outros dias em uma data comemorativa?  

Temos um passado de não consideração das crianças como seres humanos com características próprias e direitos que devem ser cuidados, pois estas eram vistas e compreendidas como mini adultos, que não haviam particularidades a serem pensadas e consideradas pela sociedade. Hoje isso é entendido de outra forma, o que abriu a possibilidade de se pensar o "ser criança". Tenho, contudo, receio de que resquícios dessa forma de ver e pensar a infância permaneça camuflada em nossas atitudes e pensamentos, mesmo que maquiados pelo ideal moderno.

Você sabiam que os ingleses vendiam seus filhos de sete anos como escravos para os irlandeses, no século XII? E que o costume de não amamentar o próprio filho, recorrendo-se às amas de leite, se estendeu até o século XV na Europa? Hoje, muito disso já caiu por terra e há a ideia de que a infância é uma fase de extrema importância, que poderá estruturar a personalidade do indivíduo, fator fundamental para o seu desenvolvimento físico e emocional. Jean Jacques Rousseau foi um dos pensadores que muito influenciou na mudança deste olhar, defendendo que a criança não deveria mais ser entendida como um adulto em miniatura e sim reforçando seu valor próprio e singular.

Em relação a isso, pego-me pensando e questionando se houve, de fato, uma mudança na forma de pensar e enxergar a infância ou se há hoje um novo jeito, seguindo uma nova lógica, de tornar a criança um miniadulto. Vejo nos dias atuais muitas crianças sendo inseridas em escolas que pouco pensam no desenvolvimento emocional e de habilidades para a vida, mas ficam sim muito focadas no futuro profissional da criança, assim como pais que não estão, de fato, no aqui e agora da criança que está à sua frente, pedindo afeto, atenção, cuidado e carinho, mas sim preenchem suas agendas com tantas obrigações, que pouco lhe sobra tempo para a imaginação e para o brincar.

Assim, infelizmente, tenho percebido uma terceirização das crianças e da responsabilidade que cabe aos pais para a babá, para a escola, para as diversas atividades no período contraturno escolar e, as crianças quando chegam ao final do dia estão tão cansadas, que pouco "dão trabalho para os pais" no período da noite, que seria o único e curto período de contato com seus filhos. Há, então, muito pouco ou quase nenhum investimento afetivo de sua família. Winnicott, pediatra e psicanalista inglês, muito teorizou e ressaltou acerca da importância do olhar dos pais para o filho, pois é por meio destes momentos de encontro afetivo e de troca genuína entre pai e filho e mãe e filho que a criança começa a se reconhecer e a se sentir vivo, com potência no mundo.

Portanto, finalizo hoje este texto convidando-os, pais e mães, a estarem verdadeiramente com seus filhos. Não há brinquedo ou passeio que irá preencher o espaço do afeto, do cuidado e do amor! Olhem para suas crianças, aproveitem cada gota de sua criatividade e imaginação, brinquem, corram, façam guerra de travesseiro, chorem, sorriam, façam cócegas, esse é o melhor entretenimento que uma criança pode ter, que é poder sentir-se preenchida pelo amor de seus pais. Só assim ela poderá ter força e condições para alcançar outras tantas metas em sua vida!

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