A esperança nossa de cada ano

A esperança nossa de cada ano

Hoje trago nesta publicação um poema de Mário Quintana. Neste poema o autor mostra de forma muito bela e poética o envolvente processo de início e fim de ano que experimentamos a cada 12 meses. Esse processo parece estar acontecendo cada vez mais ágil e ouvimos constantemente frases, como: "Nossa, esse ano voou"; "Puxa, como passou rápido esse ano!", "Parece que a cada ano o tempo tem passado mais rápido, o que será que está acontecendo?"

Junto destes questionamentos, costumam vir as confraternizações, que fazem parte de um ritual de finalização e abertura para o novo que virá. Assim, parece-me que a cada ano as nossas expectativas, desejos e anseios vão passando por reformulações e vão, ao início do novo ano, criando corpo, ou pelo menos é o que se deseja a cada fim e começo de um novo ciclo. É comum ouvirmos também nesta época frases que expressam momentos de reflexão sobre como o último ano foi vivido e como se pretende vivenciar o próximo, estabelecendo, assim, novas metas e objetivos. 

Então, penso que Mário Quintana, em seu texto, muito bem descreveu o poder dessa transição, pois um ano desgastado passa a ser, de um dia para o outro, um  novo ano de infinitas possibilidades, o que nos faz ter um ato de fé e esperança no desconhecido que virá.

Coloco a seguir o poema:

 

Esperança

 

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano

Mora uma louca chamada Esperança:

E quando todas as buzinas fonfonam

quando todos os reco-recos matracam

quando tudo berra quando tudo grita quando tudo apita

A louca tapa os ouvidos

                                         e

                                                  atira-se

e – ó miraculoso voo! – 

Acorda outra vez menina, lá embaixo, na calçada.

O povo aproxima-se, aflito

E o mais velhinho curva-se e pergunta:

– Como é teu nome, menininha dos olhos verdes?

E ela então sorri a todos eles e lhes diz, bem devagarinho, para que não esqueçam nunca:

– O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA... 

 

Bonita a forma que o poeta coloca, não é mesmo?

Penso que é bem semelhante ao que vivenciamos a cada virada de ano, em que deixamos um ano já desgastado e cansado para trás a fim de irmos em busca de um jovem, renovado ano, que nos empresta força e esperança para acreditar que vale a pena continuarmos tentando, batalhando e vivendo mesmo em meio ao desconhecido, que muito assusta, mas muito promete.

Pego emprestado as palavras de Gonzaguinha para reforçar que a beleza da vida talvez seja justamente esse desconhecido, esse ato de fé que precisamos necessariamente ter, pois pouco se conhece e se pode afirmar sobre a nossa existência. Gonzaguinha, então, nos ensina a ver a ambivalência da vida com olhos também de esperança. Ele lindamente canta:

 

"E a vida, ela é maravilha ou é sofrimento?

Ela é alegria ou lamento?

O que é? O que é?

Meu irmão

Há quem fale

Que a vida da gente

É um nada no mundo

É uma gota, é um tempo

Que nem dá um segundo

Há quem fale

Que é um divino

Mistério profundo

É o sopro do criador

Numa atitude repleta de amor

Você diz que é luta e prazer

Ele diz que a vida é viver

Ela diz que melhor é morrer

Pois amada não é

E o verbo é sofrer

Eu só sei que confio na moça

E na moça eu ponho a força da

Somos nós que fazemos a vida

Como der, ou puder, ou quiser

Sempre desejada

Por mais que esteja errada

Ninguém quer a morte

saúde e sorte"

 

Finalizo, então, esse texto agradecendo a todos que me acompanharam por aqui este ano e desejo que nesta transição possamos manter nossa esperança viva para experimentarmos com intensidade e vivacidade as finalizações e nos aventurarmos a alçar voos ainda maiores, com saúde e sorte, como der ou puder ou quiser, no ano de 2018.

 

Um excelente fim de ano a todos!

 

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In: Quintana, Mário. Poesias para a infância (Poesia Completa, Coleção Nova Aguilar, Editora Nova Fronteira, p. 954)

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