A nós mulheres!

A nós mulheres!

Há alguns dias fui convidada a falar sobre os desafios da mulher moderna em homenagem ao dia internacional da mulher. Pensando sobre este tema, resolvi dedicar uma publicação a nós mulheres, que temos tentado ser super mulheres em nosso dia a dia. E será que nós devemos mesmo ser super mulheres? O que envolve assumir essa posição?

Percebo que atualmente a maioria das mulheres tem conciliado um grande número de atividades, seja no âmbito familiar, profissional ou de lazer. Após anos de luta (e muito ainda há para lutarmos), hoje vejo que estamos a cada dia adquirindo mais direitos e espaços na sociedade, os quais antes eram impensáveis. Hoje a mulher assume uma posição de sujeito que escolhe se quer trabalhar fora de casa, se quer estudar e se especializar, se quer ou não se casar e até se quer viver a maternidade ou de que forma quer vivê-la. E a sociedade ganha muito com isso, pois as mulheres são polivalentes, isto é, conseguem fazer várias coisas ao mesmo tempo e na maioria dos casos são muito bem sucedidas em tudo que se propõem.

Sem falar sobre os momentos de lazer que são extremamente importantes, mas muitas vezes não são lembrados, pois quase não sobra tempo e disposição para seus interesses pessoais no fim do dia corrido e atarefado. E o que dizer sobre a cobrança ferrenha da mídia a respeito de como a  mulher deve ser? Há uma exigência extrema de que ela deve estar sempre bonita, com o corpo em forma, com as unhas feitas, sem pelo em excesso, com o cabelo escovado, enfim...seguindo um molde que é imposto! E como é difícil sustentar tudo isso, não é mesmo? 

Não tem sido fácil equilibrar de forma saudável todas essas exigências. Para isso, muitas vezes a mulher moderna coloca a capa de Super Mulher, tenta fazer tudo de forma perfeita e se esquece de que é feita de carne e osso, como todos os outros seres humanos.  Vejo que muitas ao mesmo tempo que preparam o almoço, pensam na tarefa de casa do filho que precisa ser olhada com cuidado, logo lembram que devem finalizar algo para o próximo dia de trabalho, enfim preocupam-se a todo momento em realizar com perfeição o que se propuseram. Mas, perfeição existe? Quem cobra isso da mulher? Vejo que há sim cobrança externa, mas acredito que a pressão interna é ainda maior, o que suga toda a energia da mulher.

 Percebo muito no consultório o sentimento de culpa nessas mulheres, pois não conseguem alcançar o ideal que projetam para si mesmas. Afinal, não dá para querer ser a família perfeita e sem conflitos como a da propaganda de margarina ou a mulher com os cabelos lindos da propaganda de shampoo e condicionador (como se os produtos fossem os únicos responsáveis por isso) ou, ainda, ser a super mulher dos gibis que tem força para carregar tudo em suas costas. E sabe por que não dá? Não é porque você, mulher, falhou. Não é porque você, mulher, não deu conta. Não dá, porque isso é utópico e irreal para todos nós, homens e mulheres. Não há perfeição na vida humana. Até podem tentar buscar isso nas máquinas e robôs, mas quando se fala de ser humano é tudo muito mais subjetivo e influenciado por sentimentos, emoções e vivências. E que bom que é assim! Ninguém precisa dar conta de tudo a todo momento e a qualquer custo!

Há ainda mais uma questão importante: embora  a mulher tenha conquistado espaço em vários contextos que antes não havia possibilidade, há algo muito forte na nossa história e cultura em relação à vida pessoal e à formação de uma família. Percebo que as mulheres vão ao longo dos anos reservando espaço em sua vida para outras realizações além da profissional. Não vejo este ponto como uma ambição profissional menor, mas sim uma ambição geral maior, pois a mulher não é ambiciosa apenas na vida profissional, mas na pessoal também. Então a relação da mulher com a questão família versus carreira é muito diferente da do homem, pois normalmente (leia-se, não é uma generalização) por mais preocupada e voltada que esteja ao trabalho, ela também se volta muito para a família e o tempo que reservará para o marido e os filhos. Sentem-se assim muito culpadas e divididas quando percebem que não conseguem ser cem por cento em tudo e isso gera muita angústia, ansiedade e muitas vezes queixas psicossomáticas.

O que fazer então? Penso que uma boa forma de começar seria tirando essa capa de Super Mulher e ir tentando inserir na rotina momentos em que possam sair um pouco das diversas funções que assumem e, deste modo, olhem para si mesmas. Não só para os papéis que desempenham, seja como mães dedicadas, esposas amorosas, profissionais responsáveis ou filhas preocupadas com os pais mais idosos, mas sim poderem no meio de tantas funções se reencontrarem consigo mesmas, com seus desejos e necessidades próprias. A psicoterapia auxilia muito nesse processo, pois ajuda a mulher a se perceber, a se olhar com mais gentileza e cuidado e a se colocar também como prioridade, entendendo a importância disso e conseguindo lidar com a culpa que muitas vezes vem associada.

Para finalizar, é muito importante lembrar que não existe uma única forma de ser mulher, mas sim uma forma que cabe a cada mulher ser, levando em consideração sua história de vida, suas relações e vivências. Portanto, vamos sim desempenhar as funções pelas quais lutamos e conquistamos, este não é o problema, mas sim querer fazer tudo isso de forma idealizada! Portanto, sejamos mais humanas e menos super mulheres!

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